África vs Rita
Em jeito de reflexão para o fim de semana, deixo-vos com as minhas interiores-introspecções-intra-filosóficas!
(e assim, numa primeira frase, perdem-se logo 76,7% dos leitores...)
Ao fim de 6 meses de vivência africana profunda, chego à conclusão de que já não sei porque se perde tanto tempo a engomar roupa, tanto dinheiro a comprar roupa nova e que sim, é possível viver com apenas 3 pares de sapatos.
Mas depois vejo a Sic Mulher e babo-me para cima das reportagens das colecções Primavera, Outono, Inverno, Verão, o que quiserem, vou ao site da Vera Wang e babo-me para cima dos vestidos de noiva, sem ser de noiva o que quiserem, e ainda vou ao site da STYLISTA ver umas dicas... Umas dicas?! Aqui em Pemba é de facto fundamental saber que os calções boho chic estão na moda, e os tons pastel, o azul e tal...
Já não como queijo flamengo, chévre, mozzarela, etc... e iogurtes há exactamente 6 meses e reduzo a minha alimentação ao que a natureza aqui me dá: fruta, vegetais, peixe e marisco... Nem um bifinho de lombo e salmão fumado, que eu nunca pensei saudar-me pelo salmão, esse enjoado peixe frio. Nada! É comer o que temos e ir comprar um chocolatinho à bomba de gasolina que acabou o prazo em Janeiro e, e!
"Muito já tens tu, Rita, agora a pedir mais..." - diz a minha voz africana (que tem um turbante enorme)
E eu, como uma vítima, ponho-me ainda a ver mais programas com aquelas chefes fantásticas a fazer bolos e cozinhados naquelas cozinhas lindas, bem equipadas, onde há bimbys e electricidade e eu aqui tento, com a faca e a colher e pau fazer o mesmo.
Já me esqueci do sabor das pipocas do cinema, do cheiro da sala da Gulbenkian e da alcatifa da FNAC, pensando que a minha alma se alimenta desta cultura, que se baseia em sair de casa e ver o que se passa na rua . Mas mesmo assim, devoro o site dos Óscares, continuo a pesquisar os espectáculos e ainda os livros mais recentes.
Pois isto, das duas uma, ou eu estou a ficar com uma esquizofrenia, ou então a culpa é toda da televisão e da internet que me "obrigam" a salivar e a responder à campainha do mundo ocidental.
Seis meses não foram suficientes para o meu cérebro libertar-se disto tudo, preciso de um retiro no meio de Tete (a Província mais isolada e longíqua de Moçambique), e talvez ao fim disso já coma as formigas com asas fritas como eles fazem, depois de as apanharem, atraídas pela luz (apanham aquilo à mão, tiram as asas e comem... é verdade, no Ibo é um pestisco).
Bom, então, onde ficamos? Onde fico eu? Pertenço onde? Onde está o meu padrão?
Continuo a lavar os dentes, sim, e a tomar banho, sim, mas, por exemplo, já uso t-shirts comidinhas pela traça e está muito bem assim. Não coso o buraquito. Isso já é mau? Já é sinal de mudança? Entro nas barracas e como aquela comida que antes, nem Deus e nem os anjos, sabem por onde aquilo andou, e eu devoro aquilo tudo. Tudinho.
Isso é sinal que estou a descarrilar?
Na rua quando peço uma indicação, baixo o vidro e grito: "Olha! Banco?", em vez de : "Olhe, desculpe, podia dizer-me onde fica o Banco, se faz favor?"
A seguir vem o quê?! Roer as unhas dos pés está a um dia de distância?!
Mas eu ainda faço máscaras para o cabelo seco, e arranjo as unhas, e tal... ah! e, grito para o mundo inteiro me ouvir, limpo a pele todas as noites e ponho o sérum, xpto, night repair xyz, que diz-me o meu homem, deve ser feito de baba de tartaruga!!
Hum... acho que vai ser um fim de semana complicado...!
(e assim, numa primeira frase, perdem-se logo 76,7% dos leitores...)
Ao fim de 6 meses de vivência africana profunda, chego à conclusão de que já não sei porque se perde tanto tempo a engomar roupa, tanto dinheiro a comprar roupa nova e que sim, é possível viver com apenas 3 pares de sapatos.
Mas depois vejo a Sic Mulher e babo-me para cima das reportagens das colecções Primavera, Outono, Inverno, Verão, o que quiserem, vou ao site da Vera Wang e babo-me para cima dos vestidos de noiva, sem ser de noiva o que quiserem, e ainda vou ao site da STYLISTA ver umas dicas... Umas dicas?! Aqui em Pemba é de facto fundamental saber que os calções boho chic estão na moda, e os tons pastel, o azul e tal...
Já não como queijo flamengo, chévre, mozzarela, etc... e iogurtes há exactamente 6 meses e reduzo a minha alimentação ao que a natureza aqui me dá: fruta, vegetais, peixe e marisco... Nem um bifinho de lombo e salmão fumado, que eu nunca pensei saudar-me pelo salmão, esse enjoado peixe frio. Nada! É comer o que temos e ir comprar um chocolatinho à bomba de gasolina que acabou o prazo em Janeiro e, e!
"Muito já tens tu, Rita, agora a pedir mais..." - diz a minha voz africana (que tem um turbante enorme)
E eu, como uma vítima, ponho-me ainda a ver mais programas com aquelas chefes fantásticas a fazer bolos e cozinhados naquelas cozinhas lindas, bem equipadas, onde há bimbys e electricidade e eu aqui tento, com a faca e a colher e pau fazer o mesmo.
Já me esqueci do sabor das pipocas do cinema, do cheiro da sala da Gulbenkian e da alcatifa da FNAC, pensando que a minha alma se alimenta desta cultura, que se baseia em sair de casa e ver o que se passa na rua . Mas mesmo assim, devoro o site dos Óscares, continuo a pesquisar os espectáculos e ainda os livros mais recentes.
Pois isto, das duas uma, ou eu estou a ficar com uma esquizofrenia, ou então a culpa é toda da televisão e da internet que me "obrigam" a salivar e a responder à campainha do mundo ocidental.
Seis meses não foram suficientes para o meu cérebro libertar-se disto tudo, preciso de um retiro no meio de Tete (a Província mais isolada e longíqua de Moçambique), e talvez ao fim disso já coma as formigas com asas fritas como eles fazem, depois de as apanharem, atraídas pela luz (apanham aquilo à mão, tiram as asas e comem... é verdade, no Ibo é um pestisco).
Bom, então, onde ficamos? Onde fico eu? Pertenço onde? Onde está o meu padrão?
Continuo a lavar os dentes, sim, e a tomar banho, sim, mas, por exemplo, já uso t-shirts comidinhas pela traça e está muito bem assim. Não coso o buraquito. Isso já é mau? Já é sinal de mudança? Entro nas barracas e como aquela comida que antes, nem Deus e nem os anjos, sabem por onde aquilo andou, e eu devoro aquilo tudo. Tudinho.
Isso é sinal que estou a descarrilar?
Na rua quando peço uma indicação, baixo o vidro e grito: "Olha! Banco?", em vez de : "Olhe, desculpe, podia dizer-me onde fica o Banco, se faz favor?"
A seguir vem o quê?! Roer as unhas dos pés está a um dia de distância?!
Mas eu ainda faço máscaras para o cabelo seco, e arranjo as unhas, e tal... ah! e, grito para o mundo inteiro me ouvir, limpo a pele todas as noites e ponho o sérum, xpto, night repair xyz, que diz-me o meu homem, deve ser feito de baba de tartaruga!!
Hum... acho que vai ser um fim de semana complicado...!
Comentários
confesso q já há muitos meses q não vinha espreitar o teu blog, mas hoje porque te vi no facebook, entrei e estou aqui a devorar TODOS! Continuas o máximo com as letras e palavras! Beijos e aproveita ao máximo essa NOVA vida!
Monica Guerreiro - ISCSP