diários de moçambique** #10


Diário de Moçambique. volume 2. "as raízes do princípio"
 
 
14 de Março de 2011. (2ªfeira)
 
Começa a semana com chuva.
O que em Lisboa poderia ser mau começo, aqui é apenas a continuação do estado de espírito da natureza.
Há vários dias que não chovia, estava tudo a ficar demasiado seco, o calor estava a tomar conta de tudo. O chão estava a perder humidade e a terra a ficar em pó. E já muitas vozes se levantavam dizendo que não chovia mais - mas isso era e seria uma grande desgraça para as machambas desta gente toda que tem o milho a meio caminho.
Mas assim como a lua se ia tornando mais brilhante, e o céu ainda mais estrelado, como ontem à noite em que tudo se via, com um final de dia em tons pastel, e estrelas por todo o lado - às 5 da manhã começou a chover.
E até agora, 8h40, ainda não parou.
Ontem tivemos um dia preenchido por um grande passeio à volta do Ibo.
Fomos com o Jo à ponta Sul-este da Ilha - a que fica mais próxima da Quirimba.
Saímos de nossa casa directos à pista do "aeroporto" e atravessamos um deserto árido de bocados de rocha /coral, algumas árvores, vegetação rasteira, formigueiros gigantes. Calor e o sol bem de ponta - saimos às 11:00, que é a hora de mais calor, mas é também aquela que nos permite caminhar com a maré vazia.
No caminho, antes de virar completamente a Sul, cruzamo-nos com algumas mulheres que foram para aquele deserto buscar lenha. Lenha, pedaços de madeira, e de plástico que o mar leva até ali em alturas de grandes marés e depois, quando recua, ficam montes de lixo e madeira.
A lama, o matope, estava seco, tal tinha sido o calor dos últimos dias. Passamos por entre o mangal seco, como se fosse um enorme jardim com árvores e vegetação rasteira verde. No fim desse jardim, como se fosse o fim da terra, estava o mar vazio. Uma extensão de quilómetros de areia, com o mar ao fundo, a espuma branca da rebentação e barcos fantasmas que pareciam suspensos pelo ar quente do chão.
Havia pequenas crateras como se fossem aberturas vulcânicas num solo lunar, com restos de mar a temperaturas muito altas, com peixes lá dentro e seres diferentes.
Como sempre, havia pássaros a pescar a espetar o bico no matope misturado com a areia.
Contornamos esse lado para entrar no caminho, que já fiz para a Quirimba, mas desta vez no sentido oposto, a caminho do Ibo.
Fizemos o caminho de volta debaixo de algum calor, pelo canal muito vazio, em que a certa altura estreita à largura de uma pessoa.
Pisei uma rocha, pedaço de coral, que se partiu e sumiu-se o chão debaixo de mim.
Caí para o meu lado direito e apoiei a mão - fiquei com o dedo mindinho todo torcido e o anelar também. Isto porque do outro lado tinha a máquina, que mesmo assim, entrou totalmente dentro de água! Que susto, mas não se estragou... eu ganhei uns arranhões e um dedo todo inchado.
Chegamos ao Ibo são e salvos, quase 4 horas depois, com calor e suor de 12 km de caminhada.
Foi um dia bem passado.
 







 

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