Within You Without You

Foi no verão, em 1994. 

Tenho uma amiga que conta os anos de vida pelos verões que faltam. E é bem colocado. Se pensarmos, ah! ainda vivo uns bons 20 anos ou ah! ainda tenho 20 verões - é diferente. 

Há 30 anos, eu ainda iria viver 30 verões. E chegar a este verão, 30 depois, a este presente que vivo, um dia de cada vez. 

Foi no verão de 1994 que fui passar férias para Inglaterra. Ainda fui com 16. Fiz os 17 depois de voltar de Chester. E foi incrível. Durante a manhã tínhamos aulas de inglês, numa escola, e as tardes eram livres. Houve passeios até Liverpool, e ao museu dos Beatles. Houve uma noite que achamos boa ideia fazer uma direta, comemos fatias de pão de forma e bebemos shots de Tequilla. Patinamos no gelo, fomos a Pubs quando a idade mínima era 18 anos, e descobrimos o rímel à prova de água do Marks&Spencer. Cada estudante ficava a dormir em casa de uma 'família' - a única condição que a minha Mãe me deu, foi não ficar com uma amiga portuguesa na mesma casa. O objetivo destas férias era falar inglês todo o tempo.

O que se ouviu o tempo todo foi Beatles. As manhãs eram passadas a decorar as letras das canções. Esse também foi o verão em que fui a uma festa da espuma no News, e comecei a namorar com um rapaz, ao som de Prince e da música Kiss. E foi em Chester que comprei o CD Brothers in Arms dos Dire Straits. 

Tantos verões depois, chego ao dia de hoje. Estes dias de hoje. E tenho ouvido Beatles. Lembro-me do meu quarto em casa da minha 'família'; partilhava-o com uma austríaca que tomava banhos no Rio. O que era super proibido. A Sara tinha uma 'mãe' que fazia criação de chinchilas, a Cláudia tinha uma room mate espanhola que nunca tomava banho, à Sofia calhou-lhe um casarão de uma viúva rica, onde ficámos todas a dormir na tal noite da direta.

Within you Without you é o nome de uma música dos Beatles que eu não conhecia. Ouvia-a pela primeira vez há poucos dias.

Só poderia entender esta música trinta verões depois.

A vida segue, quer se queira ou não. Quer se peça ao Mundo que feche e mande todos embora. Os verões sucedem-se, uns após os outros, não há meio de parar. Só há um caminho, que é seguir o caminho. Seja um caminho de pedras, tristeza e de dor, seja de alegria, luz e exultação. 

É o que nos é pedido. E além disso, somos muito pouco e somos todos iguais. 

É não esperar nada, e tudo esperar. É ter os pés na terra e a cabeça no ar. 

Ver para além, e ver cá dentro. 

É um beijo no meio da espuma.


We were talkingAbout the space between us allAnd the peopleWho hide themselves behind a wall of illusionNever glimpse the truth, then it's far too lateWhen they pass away

(...)

Try to realize it's all within yourselfNo one else can make you changeAnd to see you're really only very smallAnd life flows on within you and without you

(...)

When you've seen beyond yourselfThen you may find peace of mind is waiting thereAnd the time will come when you see we're all oneAnd life flows on within you and without you

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