Ídolos
Afinal há coisas inexplicáveis por palavras. E eu achava que não. Sempre me servi do léxico e do vocabulário, as palavras sobravam. Até ter ficado muda. Há coisas que não se explicam por palavras. E eu, obstinada pelo sentido e que escarafuncho tudo a fundo, quis perceber como é isso possível. Haver falta de palavras e de sentido. A fé não se explica. Deus não se explica. Morrer um irmão não se explica. Recolhi opiniões de todos os tipos, li vários livros, ouvi muita música, dissequei as letras. Fiz um diário, apontei cada dia e cada sentir. Fiz um retiro de silêncio, fui-me confessar, fui comungar. Quis perceber o mistério da vida e da morte, tanto da Física como da Filosofia. Depois, fui-me zangar com o Mundo. Com as editoras: há poucos livros sobre a morte ; com os professores: devia haver uma disciplina sobre o luto ; com a Junta de Freguesia: vocês deviam ter um guichets nas rotundas em que as pessoas passavam de carro, tipo MacDrive, e levavam com chapadas na cara para acor