28



Têm sido dias de voltas pela Baixa-Chiado.
Colina acima e colina abaixo, tanto estou na Baixa como me meto no meio do Bairro Alto.
Várias vezes apanho o 28 para Campo de Ourique e de regresso a casa, também.
O 28 é uma espécie de veia que corre desde os Prazeres até ao Castelo, marcando a estrada com os carris e mostrando uma cidade tão bonita.


Apanho-o cá em baixo, no começo da Calçada do Combro, e assim, misturo-me no meio das dezenas de turistas. Gosto de me meter no meio deles e experimentar ver pelo olhos deles. Usar a sua lente, ver a minha cidade como se fosse uma turista.

Vou sair no Camões e descer a Rua Garrett. Gosto da minha cidade.
Algumas coisas enchem-me de orgulho, outras nem tanto... o comércio de rua, principalmente na zona da Baixa, está velho e ultrapassado, salvo raras excepções.
Entro na Papelaria Fernandes, na Rua do Ouro e dá-me um dó de alma. Prateleiras vazias, duas canetas perdidas numa vitrine, uma caixa de clips a pedir socorro na montra...

Depois, vá, há a Pollux! Um mundo maravilhoso! Uma mistura de drogaria fina com feira do artesanato. Eu tenho de me puxar dali para fora pois consigo passar uma manhã inteira naqueles 8 pisos de plásticos, drakalon, pirex, almofadas, toalhas, turcos, formas de silicone e regadores.
E ainda não foi ao 9º Piso, onde é o café, experimentar a vista que eles prometem ser fabulosa.

Mais abaixo chego á Rua da Conceição, a famosa Rua dos Retroseiros. Outro mundo que me fascina. Toneladas de botões, fitas de nastro, fivelas para cintos, colchetes, .... algumas sente-se bem a melancolia de um tempo que já foi.
Outras ainda vão sobrevivendo aos eléctricos que raspam no alcatrão, indo e vindo.
Lá está o 28 outra vez! O 28 é um vaidoso.

Vou subir a Rua Augusta e cruzo-me com mais turistas, outro tipo de comércio e começo a cortar para a Rua Nova do Almada até ao topo. Há livrarias onde só apetece ficar uma tarde inteira e trazer metade dos livros, mesmo sabendo que não os vou ler.

Regresso ao coração do Chiado. Gente, Igrejas, Prédios em recuperação, pedra da calçada madura, cheiro o Castelo ao longe e meto-me novamente no meio dos turistas.
Acho que se fosse turista também gostava...

Comentários

Anónimo disse…
Muito bem.Muito agradável.Mas o melhor de tudo é o
28 que é vaidoso.Tive um cão que se chamava 29.Não era vaidoso.Era rafeiro e era o rei de um jardim enorme.Tinha pelo curto preto e branco e viveu toda a vida naquele enorme jardim donde nunca saiu.Viveu 15 anos.Quando mo deram eu devia ter à volta de 8 ou 10 anos de idade.Era uma fera para com quem não conhecia.Ando com uma fotografia dele na carteira para mostrar a amigos meus que lá iam para jogar à bola e que tinham medo dele , mesmo sendo que fisicamente não era muito grande.Era mais para o pequeno do que para grande.Acho que ele gostava de mim dado que quando me via através das janelas abanava muito ao rabo.Morreu a dada altura , e foi enterrado por mim juntamente com dois melros e um cagado que por lá andou muitos anos.Ao cagado tive de o matar porque apareceu com parte de uma perna como que destruída.Nunca mais me vou esquecer.Por estas e por outras fiquei com o pensamento de que nós homens e mulheres somos gastadores do tempo e que é raro parar para observar , o que não é o teu caso.Cada vez concordo mais com a frase ,ser poeta é ser mais alto.E pode-se ser poeta sem se ter o cunho de intelectual.Penso eu de que.

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