diários de moçambique** #4 (continuação e fim)
Diário de Moçambique. Volume 1. "do que te leva a ir..."
30 de Novembro de 2010. (3ªfeira)
30 de Novembro de 2010. (3ªfeira)
No caminho, encontro o Tiaheri que me ajudou a
comprar uma super lanterna e pilhas por 130 meticais, fui ao pão que se vende
por 2,5, 3 e 5 meticais e ainda fui visitar a florista do Ibo: a Dona Manassa
que amanhã me recebe às 7h00 para eu aprender como se faz aquelas flores secas,
que são folhas de mangueira. Comprei-lhe um colar.
Tu não imaginas o trabalhão que aquilo dá, cozer as
folhas na panela, esfregar com uma escova e meter no cloro (deve ser lixívia).
São 2 ou 3 mulheres que fazem aquilo – estão a fazer um candeeiro muito giro.
Era giro vender isto no nosso sítio!
Depois, ainda na companhia do rapaz fui ao tal
Clube Desportivo do Ibo (CDI), o sítio do Sahid o famoso pasteleiro do bolo de
noiva que nos acompanhou numa viagem de barco.
Recebeu-me tão contente. Diz que o bolo foi um
sucesso e a festa muito bonita – eu só me lembro das formigas pretas, gordas e
reluzentes que se passeavam tão contentes pela cobertura branca! O Sahid tem um
pequeno restaurante no CDI, com ementa, bebidas e tão feliz mostrou-me ele o
seu estaminé.
Sentei-me e bebi uma Sprite. Os miúdos jogavam à
bola no campo lá fora e foi um momento bem passado. Apareceu o “Cristiano
Ronaldo”, aquele puto que tu gostas muito, que veio logo dar-me o resultado do
último jogo do Real Madrid.
Ainda conheci o Siufu, que trabalha na Educação e
está ligado ao desporto, cultura e … não me lembro. O Ibo tem equipa de
futebol, atletismo e xadrez! E entra em competições provinciais. Há uma dança
típica do Ibo que se chama Tufu e há por aí um Festival de Cultura. Fiquei logo
cheia de ideias!
Ainda de regresso a casa encontrei o Elder, conheci
finalmente o Dimitri e ainda vi o Arnau e demos dois dedos de conversa.
Cheguei a casa tomei um bom banho e vim para aqui,
onde estou a escrever-te esta carta – o Miti Miwiri.
Quis-te contar tudo, tudo desde o segundo em que
nos separamos. Vou dormir sozinha naquela casa, é verdade, mas tu sabes que eu
durmo sempre bem. E está lá o Sahid no jardim, assim não me sinto tão sozinha. Tenha esta
certa dose de coragem, que eu não sei de onde vem. Penso sempre na minha Avó
Nice, porque ela também seria o tipo de mulher que dormiria sozinha numa casa
como aquela, numa Ilha como esta, muito senhora de si.
Só durmo mal por pensar onde estarás. Já sei que
passaste a “Ponta do Diabo” – passaste um obstáculo, superaste-te e eu
também me sinto mais forte neste dia
sozinha. Não é fácil estar sozinha naquela casa cheia de complicações e de
bichos, mas senti que assim que abro a porta para rua, há sorrisos por todo o
lado e por isso sinto-me bem aqui.
Espero que durmas bem, amanhã estarás exausto e
terás uns dias para descansar por aqui. Espero que chegues bem, rezo por ti.
Parece que estamos a viver o tempo das nossas
vidas, a tua aventura deve ser verdadeiramente maravilhosa e só me resta
esperar-te e ouvir depois a tua “carta”.
Fica bem. Amo-te muito. Um beijo salgado, um abraço
forte. Quero-te ao pé de mim…
(Na noite seguinte, às 3h da manhã ele voltou!
Vinha ensopado, exausto, queimado pelo sol, magro. Como eu não sabia ligar o
gerador e a bomba de água, tivemos de o fazer aquela hora. Agora já sei
e ele fica cheio de orgulho de mim!)
**excertos do meu Diário Pessoal escrito durante a minha estadia em Moçambique, entre Julho de 2010 e Agosto de 2011
**excertos do meu Diário Pessoal escrito durante a minha estadia em Moçambique, entre Julho de 2010 e Agosto de 2011
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