O que se faz com a memória?
Estou cada vez viciada em viver o presente, faço exercícios, desafio o meu cérebro, ele que se atreva a desviar-me do dia - do hoje.
Viver assim, um dia por si, é mais simples - e é verdadeiramente fácil, viver-se.
As memórias e o futuro, o vazio do futuro é que "estragam".
As memórias são aqueles barcos, fundos, pesados de lastro, com limos agarrados ao casco, famílias de mexilhões, madeira pesadíssima, mas que navegam. Têm velas cosidas com linha de corda, de pano grosso, gordo do sal que o faz inchar. Navegam de bússola. São pesados, mas sempre certeiros. Não têm GPS ou cascos em fibra de carbono, mas chegam onde têm de chegar.
E para que nos servem estes barcos? São belíssimos.
O que faço eu com o meu barco? Serve-me para quê?
Para escrever, sem dúvida, e mais?
No fim de semana, passou na RTP Memória (nome tão sugestivo), uma reportagem de 1997 no Ibo (Mar das Índias). Com apresentação do Miguel Portas, filmado uma época pós guerra-civil, com zero expatriados, turismo ou reabilitação.
E quando o Miguel Portas passa à porta da tua casa, naquela que foi a tua ilha/casa e diz: "O Ibo fica no fim do mundo", e ainda "ali cabe todo o tempo do mundo"? O meu barco agita-se, contente. E eu, faço o quê com essa agitação?
Permaneço em terra a vê-lo passar. Digo-lhe adeusinho? Saltar lá para dentro? Nem pensar.
Mas fica ali à deriva, a olhar para mim. Grandão e firme.
O que faço com a memória? Ela é de tal maneira bruta, honesta e presente, que deve servir para mais do que escrever. Tem de ter uma finalidade.
Que não seja levar-nos a depressões ou crises de ansiedade.
Qualquer coisa de feliz, de agora. O feliz é o agora.
A memória é passado. E passado é o quê?
Viver assim, um dia por si, é mais simples - e é verdadeiramente fácil, viver-se.
As memórias e o futuro, o vazio do futuro é que "estragam".
As memórias são aqueles barcos, fundos, pesados de lastro, com limos agarrados ao casco, famílias de mexilhões, madeira pesadíssima, mas que navegam. Têm velas cosidas com linha de corda, de pano grosso, gordo do sal que o faz inchar. Navegam de bússola. São pesados, mas sempre certeiros. Não têm GPS ou cascos em fibra de carbono, mas chegam onde têm de chegar.
E para que nos servem estes barcos? São belíssimos.
O que faço eu com o meu barco? Serve-me para quê?
Para escrever, sem dúvida, e mais?
No fim de semana, passou na RTP Memória (nome tão sugestivo), uma reportagem de 1997 no Ibo (Mar das Índias). Com apresentação do Miguel Portas, filmado uma época pós guerra-civil, com zero expatriados, turismo ou reabilitação.
E quando o Miguel Portas passa à porta da tua casa, naquela que foi a tua ilha/casa e diz: "O Ibo fica no fim do mundo", e ainda "ali cabe todo o tempo do mundo"? O meu barco agita-se, contente. E eu, faço o quê com essa agitação?
Permaneço em terra a vê-lo passar. Digo-lhe adeusinho? Saltar lá para dentro? Nem pensar.
Mas fica ali à deriva, a olhar para mim. Grandão e firme.
O que faço com a memória? Ela é de tal maneira bruta, honesta e presente, que deve servir para mais do que escrever. Tem de ter uma finalidade.
Que não seja levar-nos a depressões ou crises de ansiedade.
Qualquer coisa de feliz, de agora. O feliz é o agora.
A memória é passado. E passado é o quê?
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