Escrever o nosso próprio nascimento
Nada leva mais tempo do que escrever o nosso próprio nascimento.
Se não nos lembramos de quando estávamos na barriga da nossa mãe, como havemos de saber contar o caminho que fazemos até ver a luz do mundo?
Quando nascemos não é quando vemos o dia, mas quando conhecemos que existe a noite. Que da luz vem a sombra. É quando percebemos que não nos encaixamos em lado nenhum? Que não pertencemos a nenhum lugar, mas que fazemos parte de todos os lugares.
E quando é que deixamos de existir?
Quando olhamos para as mãos, para o nosso corpo, e o reflexo do espelho devolve um fim? Em África, foi onde tive de nascer outra vez, conhecer o dia e a noite, sempre muito escura.
E percebi que, afinal, havia um fim.
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As saudades que sinto do meu Pai consomem-me por dentro. Toda a minha África é para ele.
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