Africa Blues



The blues are feelings of melancholy, sadness, or depression. The term is recorded from the mid 18th century, and comes elliptically from blue devils 'depression or delirium tremens'. Blues is also used for melancholic music of black American folk origin, typically in a 12-bar sequence. (Oxford Dictionary)

Quem ama não se cansa de amar. Seja o que for - pessoas, animais, lugares, paisagens, cheiros. Eu gosto de gostar (frase da Helena Sacadura Cabral, mulher sábia). E acrescento: Eu gosto de amar. 

Quando o foco desse amor se ausenta, desaparece, morre, fica para trás, retira-se, perde-se - vem aquela melancolia, como uma ternura que em tudo continua a ver amor. 

Por estes tempos, no Ibo, os dias são de terror. Os expatriados foram todos retirados da Ilha, os locais não conseguem sair; há militares e recolher obrigatório, há insurgentes (radicais) nas Ilhas de Quissanga e Quirimba, que ficam à distância de uma caminhada na maré baixa. No porto de Tanhangane, onde apanhamos os barcos chapa para as Ilhas, roubaram carros, queimaram, assaltaram, deram-se tiros. Um amigo nosso permanece, não abandonando o Hotel, de que é proprietário, nem deixando para trás a família, que é local. Outro levou um tiro numa perna e tenta chegar a Pemba. As comunicações são más.

O Ibo é o lugar onde o meu coração se deita para dormir - descansa de tudo e fecha os olhos. O corpo liga-se à terra. O coração levita. Onde preciso de muito pouco, só o tal banho de água fria ao final do dia. 

Esta foto, tirada por mim, é num desses finais de dia. Sem relógio, nem eletricidade. Só se ouviam pássaros, às dezenas, e chegava a hora dos morcegos. Dormi várias vezes sozinha, numa casa de luz limpa. 

Hoje tudo isso é impensável, inconcebível, insano. Só quero voltar, mas não posso voltar.

A melancolia atravessa-me o coração. Coitado, ele que anda tão inquieto. Dou-lhe música, ouço blues de manhã à noite. Ouço de tudo. Aos (quase) 47 apaixono-me pela Janis Joplin que morreu aos 27. Ouço Beatles, e canto, tal como no verão dos meus 17 anos, em Inglaterra. Ouço Supertramp, como quando tinha 7 anos, com o meu irmão, em casa dos meus primos.

Na minha trajetória evolutiva, construo um caminho, só feito de amor - as pedras são as pétalas das camélias que crescem, e caem, no jardim da minha Mãe. Entrego-as. 

Há tanto de bom nesta vida, e tanto de horrível. E seja em blues ou no rock, essa é a beleza de estarmos vivos. 

 



 

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