Pontos de luz




Sou filha, e irmã, de Pai e irmão hipersensíveis à luz. Não a intolerância, mas a busca da medida de luz (e escuridão) certa para fotografar. O meu Pai era um amante de fotografia e passou essa paixão para mim e para o meu irmão - que juntou essa paixão à do desenho.
O meu Pai tinha um fotómetro que usava para medir a luz do espaço, e assim calcular a abertura e velocidade da máquina - naquela altura era tudo manual. O tripé. A teleobjetiva. O João estudou fotografia e tem um olhar muito apurado. O enquadramento.
Eu não estudei, não uso fotómetro, mas persigo a paixão dos dois. 
Há pontos de luz, que durante o dia, ou noite, me fazem parar e fixar o momento. São equilíbrios de luz e sombra, escuro e claro. E tiro uma fotografia com uma máquina fotográfica mental. 
O meu Pai dizia que tudo era uma questão de luz. O meu irmão diz que tudo é uma questão de enquadramento. 
A vida, se a olharmos através de uma lente, é uma questão de contexto e de emoção. Um enquadramento e a luz. A emoção difere conforme o contexto, e vice-versa. Encontrar o equilíbrio entre os dois é um caminho que fazemos, em que vamos juntando pontos de luz. 
Tenho uma planta nova, tão bonita. 
Na luz da manhã é belíssima, vaidosa, e ao final do dia parece que conversa comigo. Na sombra. Lá fora ainda luz. 
Crescer é talvez perceber que a vida é só mesmo isso - o contexto e a emoção. 
Pontos de luz são efémeros - mas em cada segundo que existem são eternos. 







 

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