Águas Contaminadas
Meus leitores, meus caros!
Queiram desculpar esta ausência de textos, o tempo tem sido complicado.
Além disso, os últimos dias têm-me dado tanto em que pensar que nem sei por onde começar...
Regressar à cidade, às meias, aos chapéus-de-chuva, aos casacos de malha, ao trânsito, aos anúncios e aos outdoors, às horas que voam, aos dias curtos.
Dou por mim a olhar para as nuvens, para as gaivotas, para as árvores e para o horizonte do mar à procura de baleias e golfinhos.
Os dias voltam a ser dominados pelas notícias, pelos meios de comunicação e houve um "acontecimento padrão" que me intrigou nestes dias e que se relacionou com a água.
O fluxo tóxico provocado por um acidente industrial na Hungria atingiu o Rio Danúbio, ameaçando todo o ecossistema do rio, numa espécie de maré de ferrugem, altamente perigosa e contaminante. Houve suspeitas de ataques terroristas a centrais nucleares espanholas ao largo do Tejo, com risco de explosão e radioactividade que se iria entranhar no Rio e contaminaria toda uma Península. E mais recentemente, um navio com produtos químicos a bordo estaria em risco de afundamento ou derrame no Canal da Mancha, entre o Reino Unido e França, por ter chocado contra um outro navio.
Este poderia ser um guião de um filme, que assim começava com o prenúncio do fim do mundo. Deve ser assim que o mundo acaba – com toda a água limpa, e fonte de vida essencial ao homem, a ser contaminada. Sem dúvida que é na água que está o início de toda a vida – e o Homem está a destruir esse princípio.
Sinto-me completamente de rastos com estas informações. Preferia estar como estava em Pemba, longe destes meios de informação e destas sequências de pensamentos. Uma mulher caminha quilómetros para ir buscar água, e trá-la na cabeça, dentro de um bidão, com o filho enrolado na capulana e outro pela mão.
Aqui, na auto estrada despistam-se carros, há incêndios, um camião TIR perde a carga (blocos de cimento, pesadíssimos) ao embater contra o separador central – este podia ser mais uma cena para o filme do fim do mundo.
Não há dinheiro, mas há discussão. Consumo, dinheiro, tudo o que sirva para esconder esta crueldade é visto como um filtro que nos alivia o sofrimento. O Homem não está preparado para o sofrimento, para este choque – então torna-o mais suave, e acrescenta o jornalismo e o dinheiro.
Na essência, a realidade é demasiado cruel. Tanto que até a mim me custa horrores ter consciência disto. Mas temos de ir acordando… eu tento fazê-lo, um pouco todos os dias.
E para terminar tudo isto, ainda se passaram duas coisas: vi e ouvi ao vivo o José Luis Peixoto na Bertrand do Chiado e foi a "queda do mito" - a voz, a boca cheia de dentes, o sotaque demasiado alentejano, as mãos... uma desilusão; e ainda há pessoas que me fazem crer que a selva, das hienas e dos leões é aqui mesmo, entre os homens, enquanto é na savana que as regras são de ouro.
Lá todos são iguais a si mesmo, do principio ao fim.
Comentários
Em Pemba, longe do bulicio das grandes cidades, aí sim encontra-se uma qualidade de vida, rara hoje em dia! Aproveitem
Já Einstein dizia "Eu não sei com que armas se vai fazer a III Guerra Mundial, mas a IV sei que se vai fazer com paus e pedras."
Já agora também dava jeito que uns quantos canais informativos, juntamente com algumas classes de jornalistas pudessem "acidentalmente" afogar-se num qualquer danúbio contaminado, não se perdia nada....