Chuva e Trovoada
Recomeçamos de novo.
Saída de Lisboa ao final do dia, chegada a Maputo pelas 6 da manhã. Moçambique, agora.
África, aqui.
É uma experiência que se estranha, mas depois entranha-se. Vou-me habituando às pessoas, aos sorrisos tímidos, às crianças pequenas de mais para andarem na rua a vender amendoim torrado, ao trânsito incontrolável, às crianças pequenas de mais para dormirem na rua, aos pensamentos perdidos no banco de trás de um táxi que percorre a cidade, solto, sem rumo, às crianças sem rumo, pequenas de mais para tudo o que são.
Agora começamos de novo.
Primeiro começamos pela busca de um carro. Parece uma missão cumprida. Veremos.
Sim, sim meus caros leitores. Iremos repetir essa aventura de escalar Moçambique até Pemba de carro. Mais 3.000 km de uma viagem fantástica por este País cheio de vida e de potencial.
Além dos 8.391 km que nos separam de Lisboa. É tanto, mas quando bebemos café Delta ou água do Caramulo, quando pedimos uma meia de leite ou um bacalhau à braz, parece que tudo se junta. Falamos português tão longe, que quase, quase parece a nossa casa.
Mas fica a faltar aquela última coisa - que não tem marca, sabor ou embalagem. É o afecto dos amigos e da família - eu achava que havia de me habituar a isso, pensei mesmo que ao fim destes primeiros tempos fosse criando uma "camada" que protege os sentimentos dos ataques de saudades. Mas não. Por enquanto, não.
Resta-me a escrita, onde sinto que a partilha compensa a falta do que ainda está tão longe de acontecer.
Então passo ao registo.
Mais uns dias por Maputo, é a terceira vez que estou nesta cidade.
Não me consigo libertar da ideia de uma decadência que co-habita entre as pessoas, os passeios esburacados, a venda de flores e plantas nas esquinas, os hoteis esquecidos no tempo, de chão de tacos encerados e candeeiros de um dourado gasto e amolgado (onde agora estou, mas irei relatar essa experiência mais à frente), os casamentos na marginal suja, as sestas encostadas às magnólias, as vendas de fruta e legumes no chão, de peluches de todos os tamanhos e feitios, de fichas triplas e extensões, dvd's piratas, os carros cansados e os tuc-tuc que são libelinhas apressadas, os semáforos sem cor, a chuva sem chapéus e sem galochas.
Esta decadência deixa um sabor suave no ar. Não é o sentimento de destruição, de qualquer coisa deixada ao abandono, que alguém se foi embora e nunca mais voltou - é um sentimento cheio de força, cheio de vida, carregado de sentido. Que tudo faz sentido. Tanto sentido.
É uma melancolia imensa que vem com esta decadência, que me arrasta e me faz sentir tanta vontade, tanta, que algumas pessoas aqui estejam comigo. E eu absorvo tudo isto, como se tivesse um satélite que entregasse tudo isto directamente no coração de cada uma dessas pessoas. Porque tenho sempre esta vontade de partilhar tudo - como se não fosse digna de estar a viver tanta coisa, como se não merecesse este momento.
Porque a melancolia me comove, como hoje quando ouvi um canto de mulheres quando os noivos saiam da Igreja, como ontem quando começou a chover e a trovoada me fez sentir tão pequenina. A chuva traz tanta coisa com ela. Trouxe-me memórias e a melancolia.
Sempre gostei da chuva, acho eu.
Saída de Lisboa ao final do dia, chegada a Maputo pelas 6 da manhã. Moçambique, agora.
África, aqui.
É uma experiência que se estranha, mas depois entranha-se. Vou-me habituando às pessoas, aos sorrisos tímidos, às crianças pequenas de mais para andarem na rua a vender amendoim torrado, ao trânsito incontrolável, às crianças pequenas de mais para dormirem na rua, aos pensamentos perdidos no banco de trás de um táxi que percorre a cidade, solto, sem rumo, às crianças sem rumo, pequenas de mais para tudo o que são.
Agora começamos de novo.
Primeiro começamos pela busca de um carro. Parece uma missão cumprida. Veremos.
Sim, sim meus caros leitores. Iremos repetir essa aventura de escalar Moçambique até Pemba de carro. Mais 3.000 km de uma viagem fantástica por este País cheio de vida e de potencial.
Além dos 8.391 km que nos separam de Lisboa. É tanto, mas quando bebemos café Delta ou água do Caramulo, quando pedimos uma meia de leite ou um bacalhau à braz, parece que tudo se junta. Falamos português tão longe, que quase, quase parece a nossa casa.
Mas fica a faltar aquela última coisa - que não tem marca, sabor ou embalagem. É o afecto dos amigos e da família - eu achava que havia de me habituar a isso, pensei mesmo que ao fim destes primeiros tempos fosse criando uma "camada" que protege os sentimentos dos ataques de saudades. Mas não. Por enquanto, não.
Resta-me a escrita, onde sinto que a partilha compensa a falta do que ainda está tão longe de acontecer.
Então passo ao registo.
Mais uns dias por Maputo, é a terceira vez que estou nesta cidade.
Não me consigo libertar da ideia de uma decadência que co-habita entre as pessoas, os passeios esburacados, a venda de flores e plantas nas esquinas, os hoteis esquecidos no tempo, de chão de tacos encerados e candeeiros de um dourado gasto e amolgado (onde agora estou, mas irei relatar essa experiência mais à frente), os casamentos na marginal suja, as sestas encostadas às magnólias, as vendas de fruta e legumes no chão, de peluches de todos os tamanhos e feitios, de fichas triplas e extensões, dvd's piratas, os carros cansados e os tuc-tuc que são libelinhas apressadas, os semáforos sem cor, a chuva sem chapéus e sem galochas.
Esta decadência deixa um sabor suave no ar. Não é o sentimento de destruição, de qualquer coisa deixada ao abandono, que alguém se foi embora e nunca mais voltou - é um sentimento cheio de força, cheio de vida, carregado de sentido. Que tudo faz sentido. Tanto sentido.
É uma melancolia imensa que vem com esta decadência, que me arrasta e me faz sentir tanta vontade, tanta, que algumas pessoas aqui estejam comigo. E eu absorvo tudo isto, como se tivesse um satélite que entregasse tudo isto directamente no coração de cada uma dessas pessoas. Porque tenho sempre esta vontade de partilhar tudo - como se não fosse digna de estar a viver tanta coisa, como se não merecesse este momento.
Porque a melancolia me comove, como hoje quando ouvi um canto de mulheres quando os noivos saiam da Igreja, como ontem quando começou a chover e a trovoada me fez sentir tão pequenina. A chuva traz tanta coisa com ela. Trouxe-me memórias e a melancolia.
Sempre gostei da chuva, acho eu.
Comentários
Sabes digo isto porque me sinto um pouco amarfanhada por não ter os meus filhotes sempre por perto mas mais ainda por não vos ver profundamente realizados.Só que essa visão é a minha .Faço mal, pois a vida é vossa e são vocês a conquistarem a felicidade sem precisarem de mim para nada.
E volto a sentir um pouco de inveja vossa por essa aventura nova. Já é tarde de mais para mim e sinto-me cansada de tanta mudança por aqui. Sei que faço coisas a mais mas é para não pensar muito .....desculpa este desabafo. Passa como tudo.
Bjs e até à nossa conversa no SKYPE.