Ano, Lua e Vida Nova

Hoje é dia de Lua Nova e hoje matou-se uma galinha no nosso Jardim. O Imistério (nome da ex estrela de Futebol do Ibo) trouxe a bicha, fez-lhe uma covinha debaixo do pescoço, e com a mesma calma com que cortamos uma manga macia e suculenta, cortou-lhe o pescoço, que continuou a emitir sons, o corpo que se remexia preso nos seus pés e a cabeça solta, ao lado, de olhos fechados deram-me uma imagem inédita em toda a minha vida. Sim, eu nunca tinha visto matar uma galinha.

A última noite de 2010, também foi passada no nosso Jardim, em grande animação de roda do forno de lenha, a fazer Pizzas. Foi também qualquer coisa de inédito na Ilha, comer Pizzas! Tínhamos todos os ingredientes, a massa feita pelo nosso amigo Joel (Suíço) e a luz das velas a iluminar todo o cenário. Amigos estrangeiros, moçambicanos, crianças e até um bebé – todos a partilhar um bom momento, preenchido de calor e de estrelas no céu.

No dia 1 tomamos banho no mar, e demos o primeiro mergulho do ano, literalmente. A praia estava cheia de pessoas da Ilha e toda a gente passou o dia dentro de água. Para nós foi também inédito estar no primeiro dia do ano de chinelos, de pé na areia, a ver as cegonhas a passar.
Nesse dia emprestamos, como um novo costume que instituímos, a bola de futebol para as crianças jogarem, e devolverem ao final do dia (elas jogam com bolas feitas de trapos e tiras de borracha de pneu). Mas houve um episódio curioso com a bola – ela foi indevidamente “alugada” e com isso, a Polícia apreendeu a bola, e nós fomos buscá-la à Esquadra no dia seguinte. Estava um bocado em baixo, a bola, escavacada e suja, mas já está cá em casa e os miúdos nunca mais cá apareceram... Entrar na Esquadra do Ibo para ir buscar uma bola de futebol é um momento tão solene e especial, como o do Senhor que ontem recolhia a bandeira da Escola Secundária às cinco da tarde, como se tivesse numa parada militar com milhares de pessoas a assistir.

No dia 1 também fizemos pequenas mudanças em casa. Eu ganhei um “escritório” dentro de casa, porque escrever no Alpendre só é possível depois das 15h00 e às 17h00 já é escuro. Assim, em vez de derreter viva lá fora, encontramos esta divisão e colocamos a mesa e uma cadeira, o computador e a impressora – parece um escritório de um convento, pois é tão espartano com um grande pé direito, o chão em cimento afagado e as paredes brancas. Todos os dias ligamos um pouco o gerador e carregamos o PC. Hoje, em 2011, considero que acender um interruptor e haver luz, e abrir a torneira e sair água, só porque sim, é um luxo do mundo ocidental!

Tudo em 2011 me parece diferente, pois tudo se torna muito relativo…. Vivendo um dia de cada vez não será má ideia, neste mundo onde o pó é mais forte do que o Homem, onde a natureza é sempre superior (já vimos tanto bicho e insecto do mais raro ao mais bizarro), onde os nossos padrões não se encaixam em lado nenhum, onde até a língua é uma barreira, mas que estranhamente se entranha no nosso corpo e nos cria uma dependência que sabemos que quando um dia voltarmos ao mundo do interruptor da luz, vamos sentir o apelo desta Terra tão misteriosa.

Comentários

Anónimo disse…
Tenho a certeza que vai ser um ano muito bom para voces. Desejo o como o desejo para mim e sei que tudo vai correr bem.

Quem sabe nao vos farei ainda uma visita...

Beijos e abracos muitos.

ps. o benfica 'e GRANDE!!!

Goncalo Barros (ainda pelo Quenia)

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