Sempre o Douro
A primeira vez que vim ao Douro foi em Novembro de 2003.
Não tinha qualquer expectativa. Era um destino.
Depois percebi que, para mim, o Douro nunca mais seria um destino, mas um lugar onde se é, onde se está.
A Casa onde fico, da Ana Rita e do Mário, é uma Quinta de 1800, carregada de história e de vida passada: o chão que range, as paredes de pedra, o louceiro carregado de pratos e de chávenas, as fotografias do passado e a garrafeira de teias de aranha. Lá fora o silêncio é esmagador, mas com estes dias de calor tem sido interrompido pelas cigarras bêbedas de sono. Durante o dia refugiamo-nos em casa, cujas paredes forradas de pedra com uma espessura imprópria para dias deste século protegem-nos das temperaturas escaldantes.
O meu filho dorme sestas de duas horas e acorda às 10:00!
Eu deixo-me levar pelo ritmo das videiras, passando o tempo a ouvir o calor a rebentar dentro dos cachos. Também jogamos Monopólio e matamos moscas.
Este universo, tão especial e único, é para mim um estabilizador de humor. Tal como um comprimido.
Desde que cá cheguei já chorei muito, a realidade dói e aqui ela é mais crua do que nunca. Mas sinto-me aliviada, encosto-me no ombro dos socalcos e deixo-me chorar. O Rio consola-me e dá-me a melancolia, a Casa dá-me colo.
O Douro não é um sítio, é um lugar que se habitou cá dentro de mim.
E eu guardo-o como um segredo só meu.
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