Mudar de Vida






Mudar de vida: o cliché do século 21. Já me aconteceu mudar de vida e fazer pequenas mudanças que todas juntas são já algo de diferente em si.

Antes uma pessoa nascia e morria e no entretanto, vivia no mesmo sítio, morava na mesma casa, tinha o mesmo emprego, o cônjuge, filhos, hábitos, hobbies, carro, destino de férias.

Mas antes a esperança de vida era 40 anos e agora é o dobro. O paradigma também mudou, e vivem-se quase duas vidas dentro de uma.
O tempo avançou e agora a buzz word deste século é MUDAR.

Mudar de vida e mudar a vida 

É preciso mudar, porque mudança é sinal de inteligência e de uma mente aberta para o mundo. Eu estou literalmente entalada entre duas gerações, a dos meus Pais que faz parte da primeira parte do texto, e a da mudança, dos millennials e ainda mais será a do meu filho. Por isso, eu faço parte de uma geração ensanduichada nestes dois pressupostos existenciais.
Assumimos que mudar de vida tem a ver com decisões mais práticas que implicam questões físicas, de ambiente à nossa volta, mundo exterior. Mudar a vida implica mais um movimento interior, assumir novas atitudes, novos princípios, novas formas de estar. 
Eu vou misturar tudo: desde mudar de profissão a começar a fazer meditação um vez por semana. 

Mudar de vida é afinal o quê?

A não ser que aconteça uma pessoa despedir-se do emprego que teve durante 20 anos, fazer uma fogueira com as roupas e sapatos do trabalho, vender a casa e o carro e ir dedicar-se à permacultura num vale dos alpes franceses – o que é então mudar de vida? Eu, que faço parte da tal geração que foi educada por pais casados há 48 anos, a viver há 48 anos na mesma casa, penso: ou uma pessoa corta de vez com tudo, ou não está a mudar de vida. Será?

Não será antes adoptar certos comportamentos e estilos de vida que em parte são diferentes dos hábitos e das convenções com que fomos educados e crescendo?
Aqui está a minha lista de mudanças:

  • Mudei de casa 8 vezes. 
  • Os vários empregos que tive e recibos verdes que passo também mostram aquela leve precariedade que tanto se ouve nestes tempos de mudança. 
  • Mudei de país e voltei ao mesmo. 
  • Mudei de estado civil. 
  • Deixei de beber leite de vaca.
  • Comprei um carro híbrido. 
  • Não compro roupa há uns meses, nem sapatos. 
  • Escolho cada vez mais produtos biológicos, leio os rótulos, tento saber a proveniência das courgettes. 
  • Mas!... Não consigo ainda deixar de pôr açúcar no café e uso tintas tóxicas no cabelo além de produtos de limpeza nada amigos do ambiente.

Ser e pensar diferente também é mudar

Esta nova filosofia de vida, que tanto apregoa a mudança também tem de trazer bom senso e alguma tranquilidade. Tal como há uma fronteira ténue entre ser feminista, lutar pela igualdade de direitos e ir ao ponto de queimar sutiãs (o tema da mudança fala bastante em fogo, já percebi). Trabalhar menos horas por opção para se dedicar à família e aos prazeres pessoais, parece-me uma coisa que só por si é uma mudança de vida. 
Tirar os filhos dos colégios, colocar em escolas públicas, reduzir as horas das explicações, dar-lhes mais autonomia e responsabilidade, também me parece uma mudança de vida – dos miúdos.

Há uma lista de 10 coisas que podemos fazer e com isso mudamos de e a vida "para sempre". Concordo com algumas (como assumir e enfrentar os nossos medos) outras nem tanto, pois têm muito a ver com questões como auto-estima e segurança que não se mudam em dois tempos. 

Experimentem e depois digam: 

https://www.lifehack.org/310325/10-things-change-your-life-forever

Não acredito em demagogias, mas em pequenos passos que podem significar uma mudança. Mudar de um país europeu para um país africano, viver numa ilha sem electricidade nem água canalizada, parece-me uma mudança de vida radical, vá. Optar por usar apenas sacos de papel ou pano, deixar de usar palhinhas, adoptar um animal (em vez de comprar), também são mudanças na nossa vida.

Eu já mudei de vida. Mais do que uma vez. Já tive algumas vidas. Acredito que é naquilo que somos e como pensamos que está a maior mudança de todas – mantendo uma espinha dorsal, sendo fiel aos nossos valores e princípios. E que devemos experimentar e tentar a mudança.

(foto: eu, quando mudei de vida... Ilha do Ibo, Moçambique 2010)

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