Quando o amor acaba





O divórcio é uma cena macaca e a grande macaquice está quando acontece e há crianças pelo meio. Ou quando acontecem traições, abusos, violência.

Para o caso, falo do divórcio que acontece quando o amor acaba. Que pode ser consequência de traições e abusos ou levar a essas situações, mas não é por aqui que vou seguir na minha dialética da dissolução de um casamento.

Quero mesmo falar daquela coisa incrível e horrível que é o fim do amor. Tal como o fim do fogo-de-artifício, em que fico sempre a olhar para o céu à espera de mais e ele já está acabado, alguém já fechou a caixa e eu continuo a achar que vem de lá mais. Não vem. Finito.

O divórcio calha a quase todos, tipo queda de cabelo

Em Portugal o divórcio calha a muitos, é quase já uma questão estatística. Pois em 2017 em cada 100 casamentos houve 64 divórcios (em comparação com 1 divórcio em 100 casamentos em 1969)

Se já se sabe que vão acontecer tantos divórcios já devia haver uns manuais e elixires para melhorar a passagem pela triste e dolorosa situação que é optar pelo fim de uma relação. Daí ninguém nos tira. Para alguns é um raspão, deita pouco sangue e logo fica uma crosta que salta e desaparece, para outros é um golpe fundo, incisivo e leva tempo até ficar uma cicatriz na pele.

Gostava de ter essa capacidade de alguns que encaram o fim com a leveza de uma crosta, mas calha-me a sensibilidade de quem aprendeu a olhar e a viver com uma bela cicatriz. Tenho belíssimas cicatrizes, aliás. A minha cicatriz mais famosa é de quando fui mordida por um cão com 7/ 8 anos. Foi de tal maneira que tive de ser cosida. Lembro-me do buraco que ficou na perna depois do cão morder e lembro-me de não ter sentido dor naquela altura. Estranho. Na minha perna esquerda, do lado de dentro lá está a minha cicatriz com 4 centímetros.

Eu adoro cães e acredito que o que façam de “mau” não é por culpa deles, mas dos seus donos e das circunstâncias em que vivem. Tal como, apesar de estar divorciada, acredito no casamento e numa relação a dois que muitas vezes sofre abalos e algumas crises, até chegar a quebrar muitas vezes por factores exteriores. Mas há coisas que vêm de dentro. Tipo amar o outro. E isso ou se sente ou não; não há nenhum botão que ligue/desligue, interruptor que se põe para cima. Quando o amor se some, ele não volta. 

O índice de sacrifício ou grau de superação é que depende de cada um, e não é igual entre os dois. Superar-se a si próprio e à relação todos os dias não é nada fácil, mas talvez seja por aí que se consiga sobreviver às estatísticas e subverter a tendência dos relacionamentos neste milénio. É como um exercício, obrigar-se a encarar e a superar.

Mas quando o amor acaba parece-me que nada pode ser feito, pois é preciso dois para dançar o tango. Não há exercício, bom senso, introspeção, cautela. E é daqui que cresce uma certa frustração, pelo menos para mim que não sou mulher de me ficar pelos resultados mais rápidos e indolores. Vou à faca, não uso botox.

Divórcio e depois

Paralelismos e metáforas à parte considero-me uma crente e sei que não estou sozinha no mundo, ele está cheio de pessoas com universos tão distintos. Confesso que talvez me tenha tornado, pelas circunstâncias do meu divórcio, mais defensiva, cautelosa, mas continuo a achar que ninguém foi feito para estar sozinho!

Depois do divórcio é uma questão de tempo, tal como os dias, uns mais cinzentos outros mais soalheiros e as nuvens vão-se dissipando até se chegar uma primavera simpática. Daí a assumir que rapidamente se encontra alguém, já é um tiro longo (em inglês fica muito melhor, it’s a long shot). E também isso é uma questão de tempo. De algum tempo e paciência. Enfim, são factores meteorológicos que definem o divórcio querem ver?

Não é bem, mas devemos dar atenção aos sinais, porque eles estão lá todos e avisam-nos bem. Não se apressem a ir a correr para os braços de outra pessoa. Ouçam bem, leiam os sinais, olhos bem abertos e intuição ligada sempre no máximo. Depois é deixar o tempo passar. E encarar este caminho como parte de mais uma maratona da vida, para uns uma mini a atravessar a ponte para outros aquelas ultra no deserto; o final é igual mas o que se passou e sentiu até lá chegar não foi, nem deu nada igual.  

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