Lisboa é fado...



Hoje é dia de Santo António!


E nunca isso fez tanto sentido para mim como este ano, em que moramos num Bairro bem lisboeta. Apesar do dia cinzento e da pouca vontade de sair de casa e comer uma sardinha no pão, tenho vivido esta semana sempre com o cheiro da festa!

As ruas da Bica estão todas decoradas com fitas e balões, ontem, na Praça da Figueira, misturava-se futebol com manjericos, hoje já se ouve a música e as barraquinhas estão montadas com a cerveja e a coca cola. Há farturas e pipocas, sardinhas e febras, bolas de futebol e fitas coloridas.

Lisboa parece ser festa!

De manhã fomos até ao Rossio trocar os cromos para terminar a caderneta do mundial - que delícia que foi! Faltavam 22 e conseguimos trocar todos menos um: o 569. Pagamos 1€ e o cromo é nosso! Os putos tinham molhos gigantes de cromos, as mães vinham com os filhos da outra margem, de Cascais do fim do mundo... tudo pelos cromos.

A seguir fomos almoçar a uma tasquinha perto do Martim Moniz a subir para Alfama. O bacalhau assado na brasa e o entrecosto estavam no ponto! Mesas corridas, bancos de cozinha e conversas a meias. Todos se conhecem. Uns entram com o tupperware e levam uma dose para casa, outros vêm para desabafar mais um bocadinho... que o verdadeiro lisboeta não é sorridente, tem sempre uma mágoa lá dentro.

A chegar a casa, na rua de trás, ouve-se o fado. Amália. As fitinhas lá andam no tecto dos nossos olhos, os manjericos, as noivas casam, as marchas saem à rua de mão na anca, as sardinhas tostam no carvão e deitam aquele cheiro que se mistura com o sal grosso e com as lágrimas de cada um.
Porque Lisboa é cidade sofrida.
Ela veste-se de festa, mas é triste.

E porque moro dentro do seu coração, ela já me contou que sempre foi assim: tem a luz e o Tejo, os turistas que a enchem, mas é com o fado e os sinos tristes que ela fala. E nas tascas cheias de mágoa, nas ruas inclinadas de saudade, nas varandas de roupa esquecida.

E porque Lisboa é fado, aqui fica meu preferido, da Amália: "Estranha forma de vida".
E que letra mais triste, mas mais bonita...

Foi por vontade de Deus
que eu vivo nesta ansiedade.
Que todos os ais são meus,
Que é toda minha a saudade.
Foi por vontade de Deus.

Que estranha forma de vida
tem este meu coração:
vive de forma perdida;
Quem lhe daria o condão?
Que estranha forma de vida.

Coração independente,
coração que não comando:
vive perdido entre a gente,
teimosamente sangrando,
coração independente.

Eu não te acompanho mais:
para, deixa de bater.
Se não sabes aonde vais,
porque teimas em correr,
eu não te acompanho mais.

Comentários

Anónimo disse…
Bravo!!!!!!!!!!!! É mesmo assim.E esse fado cantado é ainda mais bonito.Coração independente.
E , o teu coração é do tamanho do mundo.Muitos parabens por tudo.
Anónimo disse…
Sei esse fado de cor.

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