Johnny - o cão ladrão



Esta é a história do Johnny, um cão que vive na baixa de Maputo, já não é novo, mas também não é velho, nunca tomou banho, tem cicatrizes no focinho, de manhã é uma coisa, à noite é outra, e é ladrão.

Johnny vai à marginal, passa pelo Jardim Botânico, é amigo do vendedor de almofadas que come meias laranjas com a namorada no banco, anda de táxi com o Acácio e os dois discutem Mia Couto, faz xi-xi na rua, tropeça nos buracos do passeio, cheira os pés dos turistas, bebe Laurentina preta com amendoins torrados, assusta-se com os sacos de plástico pretos que voam como se fossem corvos e não gosta de atravessar na passadeira.

Há uma coisa a que ele não resiste – roubar. Se alguém deixa um par de óculos no jardim, o Johnny leva-os e esconde-os. Uma carteira, uma camisola, um porta-chaves. É talvez dos primeiros casos de um cão cleptomaníaco. Johnny nunca foi a um veterinário, mas ele era capaz de lhe dizer isto.

Johnny não sabe há quanto tempo vive naquela casa; ele acha que já se passou algum tempo. Gosta de estar à porta, ver quem entra, quem sai. Gosta que os hóspedes cheguem cedo. De manhã gosta das festas, à noite fica irrequieto, de mau humor, nem se deixa tocar, ladra e rosna. De dia abana o rabo, salta para as pernas dos hóspedes e deita-se de barriga para cima.

As pessoas entram e saem, atravessam a porta, levam malas e mochilas e Johnny nunca sai dali. Passa o dia meio escondido, a ver o que consegue roubar; ultimamente tem roubado os “diários” dos hóspedes.

Comentários

Anónimo disse…
Maravilha.Mais uma prosa que dá gosto ler.São os tais universos.
Anónimo disse…
São os tais universos que a maioria das pessoas desconhecem.Por outra , não estão para aí virados.
Mas que esses universos existem isso é que é uma verdade

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