Quando viajamos, e depois quando regressamos, acontece aquele momento do "antes-depois" em que nada volta a ser igual.
Já não olhamos para o mundo da mesma maneira, porque sabemos que existem outros tantos mundos diferentes.

As esplanadas e os cafés de Paris, as flores e o campo de vaquinhas perfeitas na Holanda, o metro, as pessoas, os prédios e as lojas maravilhosas em Nova Iorque, a savana e os animais selvagens em África, as praias, os coqueiros e a areia branca nas Caraíbas, a cor da terra e da vinha no Douro, os ciprestes, os campos de trigo duro e a foccacia na Toscânia.
Quando voltamos tudo o nosso Universo vem mais rico, e por isso se diz que viajar é tão bom.

Nestes últimos meses tenho vivido num estado de "antes-depois" mais intenso. Quase físico. Mesmo físico.
Porque eu não estive de férias, no verdadeiro sentido do estado de espírito. Os últimos 6 meses em Moçambique entraram por Lisboa adentro, pela minha casa, pela minha cabeça e pela minha pele.
Quando ainda hoje me perguntam: "Mas conta lá, como é?" Não consigo responder. Mas depois porque vejo qualquer coisa, porque me lembro de qualquer coisa, porque cheiro ou porque ouço, então lembro-me!

Um dia destes fomos à Caparica. E foi a primeira grande experiência "antes-depois" que eu tive.
A temperatura da água, os meus olhos a forçar a barbatana da baleia ao fundo, ou um golfinho pelo menos, o mergulho no mar, as ondas.
Confirmo. O Atlântico é o meu mar. Devolve vida quando se mergulha!
Depois vi os pescadores a chegar nums tractores para lançar as redes. No Ibo as redes são feitas de fios velhos, com restos de chinelos para servir de boias. Lançam-se ao mar à mão, num barco a remos e os homens ficam horas dentro de água, a ir apanhando a rede a ir contornando os cardumes. Aqui foi um barco a motor que as deixou ao longe e depois foi um mecanismo eléctrico que as puxou da praia.
Das redes vinham cavalas e carapaus todos mais ou menos do mesmo tamanho, nenhum peixe com mais de um quilo.
No Ibo chegam cardumes de atum pequeno, tubarões bebés, lagostas, garoupas com três e cinco quilos e até raias. Tudo a poucos metros da costa, com água pelo peito.
Ser pescador é duro, tanto lá como aqui. O que o mar lhes dá é que é tão diferente. Concluo que deve ser mais duro ser pescador cá.

Outras experiências engraçadas têm a ver com as idas aos supermercados, que agora me fascinam pelas luzes e as coisas tão arrumadas, com os transportes públicos onde me apetece tirar fotografias, com ficar intrigada por ninguém aproveitar a água da chuva(!), com andar descalça (mesmo em locais públicos tenho de me controlar), tratar toda a gente por tu, acreditar que as crianças de lá sofrem mas são felizes, coisas dessas e assim.
Acredito que no meu universo existe uma mina de outro, que estou rica!
Mas não consigo ainda, já, hoje, compreender, assimilar e digirir isso tudo.
Como sempre e como em quase tudo, é o tempo nos compõe.

Comentários

Anónimo disse…
Como diria uma pessoa que nós conhecemos , pois. E agora?.É ,é o tempo que nos compõe e é o tempo que nos vai moldando.Há que analizar o quanto o tempo é importante para nós , pessoas.É durante o tempo que vamos pensando.

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