Letra A

Agora voltamos do Sul.
Fomos até ao Algarve, até Lagos.
"Légos". Terra de boa conquilha, ventinho e casaquinho ao final da tarde e ao cair da noite. Praia cheia de conchas, água transparente carregada de peixes, cores maravilhosas. Bocados de rochas no meio do mar, falésias daquelas que caem em cima das pessoas e depois vem na televisão - mas eu confirmei, há lá cartazes e sinais "danger", triângulos amarelos e desenhos de bocados de pedras a cair, mas mesmo assim o povo insiste em pôr-se lá debaixo, é-lhe irresistível o desafio da parede em risco de queda e morte imediata, vá-se lá entender esta gente!
É o nosso pedacinho de África, sem dúvida. Na viagem de carro pela A2 não deixo de me comparar dentro do carro a caminho do Malawi ou a caminho da Ilha de Moçambique. Mas aqui o alcatrão é suave e rolante, há duas faixas para cada lado, bombas de gasolina tão bem arrumadas, traços bem pintados no chão, separadores. Tudo impecável.
O calor é igualmente penetrante pelo pára-brisas do carro. E os bocados de uma paisagem amarelada e seca. Houve um pedaço de estrada que fizemos em Moçambique, mesmo a chegar ao Rio Zambeze, a caminho de Pemba, que era mato, mato, mato. Seco, seco e seco. Parámos para um "farnel" e fomos invadidos por calor, secura, libelinhas e aves de rapina que rondavam o nosso carro na berma da estrada.
Já para não falar dos troços de estrada com incêndios, bocados de mato que pegavam fogo a si mesmo, tal era o calor e a secura que se fazia sentir. A época das chuvas estava longe, e a humidade era de facto muito baixa. Acordavamos às quatro e meia da manhã para começar a viagem pelas cinco, para evitar ao máximo as altas horas de calor. E o que fizemos foi nada, comparado com tantos viajantes com que nos cruzamos que vinham de África do Sul (muitos da Cidade do Cabo) por ali acima.
Desta vez, indo nós rumo ao nosso Sul, a escassos 300km de casa, a paisagem cor de ouro estava carregada de rolos e rolos de palha e feno seco, vacas e ovelhas esbatidas pelo calor, ruinas, bocados de casas e milhafres. Milhafres que chegavam a pousar na estrada, levando um ratinho ou uma lagartixa no bico. E depois as cegonhas, autênticos condomínios de alta tensão, a família toda lá dentro do ninho, Pai, Mãe, e duas crias.
O Alentejo e depois o Algarve. Uma extensão da savana, do mato em África.

Comentários

Anónimo disse…
Maravilhoso, adoro viagens e paisagens, e pensar descontraídamente na vida...

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