Textos Africanos #1 (para aliviar a zanga..)

Será possível eu gostar de duas coisas ao mesmo tempo?
De duas flores, de duas castanhas, de duas fronhas, de dois cestos, de duas laranjas, de dois pés… será possível?
Da cidade de do campo? Do mar e da terra? Do elefante e do cão?
Acho que sim.

Hoje vi a cidade de Paris pela televisão – magnífica e única. As filmagens eram aéreas e a cidade estava carregada de verde, com o Verão inteiro nos edifícios desenhados só com amor. Só com amor se desenha uma cidade assim.
Depois, nessa mesma tarde, tinha o oceano à minha frente – magnífico e único. Carregado de baleias, golfinhos, peixes e água azul turquesa.

O mesmo sol que naquele instante iluminava a cidade de Paris, reflectia-se naquele mar à minha frente, naquela Praia, no pedaço de terra em frente. Só com amor a natureza pode ter feito aquele mar e aquela terra assim.
O amor dos homens e a obra do homem, o amor da terra e a obra da natureza – em opostos. São opostos intensos.
Não me abandona a ideia de que o mesmo sol que ilumina a cidade mais bonita que eu já conheci – e julgo ser a mais bonita no mundo – iluminava a minha tarde em frente ao mar, a milhares de quilómetros de distância.

Os nossos olhos estão mortos – já não vemos nada. Nem a cidade, nem a natureza… Corremos o risco de passar uma vida inteira assim e isso é morrer lentamente. Dos que vêem alguma coisa, somos capazes de os menosprezar, ridicularizar. E assim vamos caindo mais fundo, mais a caminho dessa morte lenta.

Pedia que todos os olhos vissem a cidade e o mar, com o mesmo sol e pensem. Percam um minuto a pensar no seu corpo, na sua pele, na sua respiração e que sintam que fazem eles parte do mesmo mundo, que o sol também os ilumina.
O futuro não é a evolução da espécie, o futuro é a alienação da espécie. O homem está a alienar-se de si próprio – um processo que deve ter uns 50/60 anos… tem-se vindo a intensificar neste últimos 20 anos, e julgo que esta década de 2010 a 2020 será um descalabro total de alienação.
A atenção desvia-se para o dinheiro, o petróleo, o consumo, a inveja, a cobiça. Não há volta a dar. Uns tomam consciência disso e escrevem numa folha em branco, para que alguém um dia venha ler, outros preferem nascer e morrer sem nunca ler essa folha.


Pemba, 25 de Julho de 2010 - domingo

Comentários

Anónimo disse…
É , não há volta a dar.Mas é assim e sempre será porque foi sempre assim.Penso que as pessoas não sabem o que se pode fazer com e por amor.Como se explica que o Santuário de Fátima seja cada vez mais visitado?Podia não ser assim ,podiam os homens e as mulheres estarem fartos daquele Santuário.Mas não.Não há volta a dar-lhe.

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