Somos o que lemos, e mais




Há 10 anos que partilho leituras com o meu Book Club. Somos umas 12, por aí, na verdade nunca nos preocupamos em contar. Somos constantes. Isso sim. O nosso intuito é ler, discutir livros, o que nos fazem sentir, querer ser, não pensar e querer saber mais. Ficção, não ficção e poesia pelo meio. Não somos um grupo de auto-ajuda. Somos todas mulheres, e  tivemos uma nova entrada de um corajoso homem. 

Não falamos de filhos, maridos, a escola e a empregada, o preço do azeite e a novas massagens reafirmantes. Falamos sobre livros, e falar sobre livros é falar sobre a vida. Sobre a perda, o luto, a tristeza, o amor de Mãe e de Pai, as famílias complexas, as não-famílias, corações partidos, almas gémeas que não são gémeas, casamentos que não são casamentos, sonhos, tantos sonhos, alegria, o passado, o futuro. 

Naquela premissa anos 80 de que 'somos o que comemos', diria que somos o que lemos. E aqui inclui-se as redes sociais, os jornais online, as partilhas do whatsapp. Somos o que consumimos. As músicas que ouvimos, as paisagens que vemos, os quadros que penduramos na parede, as paredes que deixamos vazias. Somos as nossas escolhas. A sopa que comemos, o dinheiro que gastamos, as pessoas que amamos, as que deixamos de amar.

Há uns meses, em setembro, entrevistei o Garrett McNamara, que em novembro de 2011, fez o que ninguém tinha feito - surfar uma onda na Nazaré com 23 metros e com isso bater o primeiro Recorde Mundial do Guiness de ondas gigantes. Um homem com uma visão incrível sobre a vida e que disse duas coisas que foram essenciais no seu caminho: a importância das pessoas por quem nos rodeamos, nomeadamente a mulher dele, e as coisas que consumimos, seja comida, musica, leitura, vibrações. 

«Acredito que tudo é uma questão de escolha, que melhores coisas vão aparecer e vamos atingir algo mais. Tudo acontece por uma razão», disse-me. E com isso afirma até a dor que tem de ser abraçada e acarinhada. E até a incerteza - essa senhora que ninguém quer ter sentada na sua sala. Na sua profissão, lidar com o risco e a incerteza, faz parte. 

A vida é boa, que não se tenha uma dúvida sobre isso. Sentir tudo o que sentimos é sinal que estamos vivos e a sentir a vida a correr por nós. É para a agarrar e senti-la. É para a transcender. Refazê-la todos os dias, nas escolhas que fazemos. Nos livros, nas músicas, nas sopas. Em tudo está uma opção. 




A minha meta de uma transcendência, de quase tentar passar à frente da vida, é vivê-la de uma forma cada vez mais simples. Este é o meu desafio para 2024. Seja no Ibo, ou aqui mesmo, em minha casa. Seja a falar e a escrever pelos cotovelos, seja no silêncio - em breve vou estar três dias num retiro (que aventura incrível). Seja na dor, seja no amor. Mas vivê-la inteira e ser inteira com a vida. Não há para mim outra opção, nem concebo que se faça diferente escolha. 

Escolher viver a verdade e ser feliz assim. 

Sei a verdade e sou feliz 

(Alberto Caeiro, Guardador de Rebanhos) 



 

Comentários

Anónimo disse…
Parabéns Rita! Tão bom continuares a partilhar leituras pois são melhores viagens que podemos ter e partilhar.
Leonor disse…
Tão bom de ler. Na próxima sexta sai no ponto SJ o que escrevi sobre esta experiência de lermos juntas e verás como estamos próximas.
Um beijinho, querida Rita.
Martha Scodro disse…
Como concordo com tudo isto! Que bom que posso desfrutar do bolo de arroz.
Anónimo disse…
Obrigada por me deixares fazer parte da tua vida.
Filipa F disse…
Que bom de ler e que verdade!

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