Parabéns, querido Pai!



Quando entrava pela casa, sabia que ela iria estar por ali, para me receber à porta, sentada a ler com uns óculos de massa de tartaruga, na cozinha ou na copa a orientar o jantar, no jardim, na varanda.... sendo sempre ela própria, como ela sempre estava.

Irrepreensível, sóbria e eterna. Como o colar de pérolas que usava, as roupas clássicas que vestia, as frases curtas em inglês que soltava quando se referia a uma situação caricata.
Encontrei-a tantas e tantas vezes, mas ela naquela altura (julgava eu) pouco ou nada me dizia.
Não entendia aquela atitude, porque não havia de brincar comigo, conversar talvez.
Era demasiado terrena para mim, que me achava uma princesa e ela a bruxa má.

Depois cresci. E ela morreu. Estupidamente cedo demais. E em mim cresceu uma ânsia de a ter conhecido melhor. E hoje teria tanta coisa para lhe contar, para que ela me ajudasse com aquela clarividência própria a entender as coisas.

Dela guardo os anéis que ficaram nas partilhas. Porque temos os dedos do mesmo tamanho, pelos vistos. Uso todos os dias uma aliança que era dela, ao lado da minha. Assim penso nela todos os dias. Na minha Avó Berenice.


A Avó Berenice é a Mãe do meu Pai que hoje faz 65 anos! Este texto foi escrito para um exercício de auto-hiper ficção, com o seguinte tema: tive um encontro com uma pessoa que me marcou na minha vida? onde foi? como foi? o que ela me deixou de presente?
A foto foi tirada cá em casa.

Comentários

Anónimo disse…
Pois foi , era uma pessoa que dava a ideia de ser calma e no entanto tinha um interior que eu chamaria de apertado.Tinha, para os 3 filhos rapazes que deu á luz , o coração todo aberto.Pela vida "barulhenta" que teve quando era pequena e depois até casar , ficou como que sempre á defesa.
Teve um pai muito austero , de tal maneira a marcou, que aos 50 e tal anos ainda sonhava com ele.Teve problemas em engravidar e o primeiro filho nasceu 10 meses após ter morrido o seu pai.Ela dizia que o seu pai era de tal maneira austero que quando chegou ao céu disse para o S.Pedro - Homem , olhe lá por essa miuda que bem precisa de ter um filho.Tudo isso e mais o ter de estudar lá fora quando era pequenina fizeram dela uma pessoa como que reservada.Quando dizes que ela não te dava conversa , sendo tu pequenina , penso que era uma forma de te observar. Foi assim.
Anónimo disse…
E nós aqui também te observamos e não somos austeros nem frios.....só que te adoramos e pacientemente esperamos por te ver MÃE realizada e feliz!

E não vamos própriamente para o Céu dar ordens a S.Pedro, mas falamos a toda a hora com o Deus que vemos cá por baixo na terra.....e sabemos através da nossa FÉ, que tens n' ELE um grande amigo, que só quer o teu bem e o do teu querido marido.

GOD BLESS YOU BOTH!

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