Couves Coração
Depois dos 30, dos casamentos e dos nascimentos dos filhos, das primeiras idas para as escolas e pré-primárias, de uma vida profissional mais consciente e mais ou menos controlada e de uma relação que se vai tornando mais sólida e cúmplice com a nossa cara metade, temos de retomar o assunto dos amigos.
Houve ali um momento da nossa vida em que somos só marido e filhos, trabalho e família. Mas agora é tempo de retomar a amizade, de a reconhecer e dar graças pelos amigos que temos. O tempo que temos para eles é pouco? Não. Talvez seja mais do que suficiente, nós é que nos escondemos atrás dessa ideia muito comum.
Quando entramos para a escola pela primeira vez, qual é a primeira coisa que fazemos? Amigos. Quando vamos para o Liceu e depois para a Faculdade. Quando chegamos a um primeiro emprego ou a uma cidade desconhecida. Criamos laços de afecto e de amizade.
Cultivar amigos é como cultivar hortas (mais uma vez se prova que o Borda de Água é um meio auxiliar à minha sobrevivência) . Tratamos o terreno, semeamos, regamos, vigiamos de pragas e outros bichos, cuidamos e aguardamos pelo fruto. Depois do fruto, temos de o manter e de o saber usar.
Com 32 anos tenho tido um pensamento recorrente - sinto um enorme orgulho pelos laços de afecto e de amizade que criei ao longo desta minha curta e jovem vida. Acho que tenho uma belíssima horta de amigos!!
Não são muitos, mas são todos bons. E agora cada vez melhores e mais apurados.
Nesta fotografia estou eu com uma amiga tão especial como uma belíssima couve coração da minha horta. Eu gosto muito de couves coração, são pequeninas e rijas e têm uma cor verde água muito suave. São compostas por centenas de folhas macias e brilhantes, têm a forma de um coração e são muito saborosas. Cada folha é mais suave e tenra do que a anterior.
E a amizade verdadeira é assim - a cada folha que retiramos descobrimos que a seguir vem uma ainda melhor!
A amizade vai passando as estações do ano e os anos passam sobre ela, o nevoeiro, as chuvas e às vezes as tempestades, mas se foi bem vigiada e tratada, se o terreno que se escolheu para a cultivar foi certo, ela nunca vai desaparecer.
E tal como eu penso que quando estamos velhos vivemos uma segunda vez a infância, os amigos nessa altura ainda são mais verdade e fazem mais parte da nossa fibra, daquilo que somos feitos. Nunca os esquecemos, porque são o nosso chão.
O Outono passa pela minha horta, mas os dias estão perfeitos e as minhas couves coração crescem viçosas e brilhantes!
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