É mais fácil não escrever...





Gostaria de ser entrevistada para responder a esta pergunta: como eu escrevo?

Como ainda não estou ao nível de uma entrevista na Ler ou no Cartaz do Expresso, faço-a aqui no meu Blog.

Isto é meu, faço o que quero!


Escrevi agora um conto infantil. Foi horrível. Difícil e sem encontrar o meu tom. O meu tom de conversa com as crianças dos 8 aos 12 anos. A minha voz já a tenho e já a reconheço. Já se marca em qualquer coisa que escrevo. Sempre que escrevo, as minha palavras têm uma voz que me distingue.

Agora, e o tom? Escrever para crianças com que timbre? chamá-las de criancinhas inocentes? falar de coisas fofas? (aqui entramos num campo que me perturba, como os que escrevem comigo já o sabem) falar do mundo ideal? do mundo cruel?


Para este conto sentei-me nas cadeiras pequeninas do IKEA que há nas livrarias para as crianças e li o que elas lêem. Falei com Pais que têm filhos desta idade. Falei com educadoras e professoras.

Depois sentei-me e esperei que a conversa chegasse. Vou construindo essa conversa. Faço muitas perguntas. Vai nascendo a história. Sei como a quero começar e como a quero terminar. Nunca sei qual é o caminho.
A certa altura são as personagens que mandam e dizem-me o que querem, normalmente fartam-se de mim e seguem a sua vida. Atravessam a passadeira comigo e dão comida ao cão de manhã, mas depois fartam-se.
Daí que eu nunca sei o caminho que levo. São elas que me orientam. Escrevo o que elas querem.
Não sou esquizofrénica. Não sou escritora. Sou uma espécie de escriturária. Cumpro horários sentada a uma secretária. Obrigo-me a escrever todos os dias. Tenho de escrever, fazer intervalos e voltar a escrever. Se não gosto, volto a tentar. Fico farta. Zango-me.
Escrever é um sofrimento, muitas vezes. Pior ainda quando leio o que escrevo e não gosto e já li 20 vezes e já não aguento mais porque mudo sempre mais uma palavra.
Sou aprendiz, tenho um mestre. Sou aprendiz de construção de personagens e de enredos. Tenho colegas de profissão. São uns sofredores como eu. E lá nos vamos apoiando uns aos outros, seguindo o nosso mestre.
Não é que a escrita seja complicada, mas é muito mais fácil não escrever.

Comentários

Anónimo disse…
Tudo o que tu quiseres mas nunca deixes de escrever.Tudo menos asneiras.

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