A porta
Choviam umas gotinhas muito finas e o vento uivava como um lobo desgovernado.
Subi a ladeira e fui-me abrigando da fúria dos elementos nos intervalos das casas, onde as pedras rudes já tinham sido gastas pelos séculos e os carreiros de água seguiam o seu rumo, já rotineiro.
Não havia silêncio, mas tudo estava suspenso.
Avistei uma porta. Fechada, zangada e com frio certamente. Não se quis abrir e ai de quem tome a ousadia de a forçar.
Gosto de portas, pensei. É um objecto que passa os dias virado de costas para nós, mas que nos persegue em todos os nossos passos. Tem uma função definida, apropriada.
Porta fechada - não entrar. Porta aberta - entrar. Porta entreaberta - espreitar!...
Arrombar uma porta é roubar. Bater com a porta é a força da ira. Dar pontapés e murros numa porta é um castigo.
A porta de uma casa... uma tábua rasa. Vai-se decalcando com o tempo, com as mãos e com os pés, com os sacos das compras, com as malas, com as chaves, o cão a raspar, a chuva que incha a madeira, o vento que a empurra, o sol que a descasca.
Arrancar uma porta é eliminar um rectângulo de memórias e de marcas.
Boas entradas em 2010!
Comentários
Bom ano!
M.Alonso
Parabéns
Gd bj
Há de alumínio , de madeira , de ferro ,eu sei lá!
Não percas tempo!É só uma porta!...............E toda esta afirmação com a exclamação de uma certeza absoluta.Numa pobre , angélica e completamente errada certeza absoluta.São as enormes diferenças dentro da humanidade.São só diferenças.