Um dos temas a que regressei, neste meu regresso (redundância propositada), foi à leitura. Esgotei em 6 meses o reportório em Moçambique e no final já quase lia o manual de instruções do gerador, tal era a "fome". Mas a escrita, anda já há algum tempo, "fora de mim".

Não consigo escrever. Se não fosse este Bolo de Arroz, e eu saber que um dia ou outro alguém vem cá ver a "bolaria", já há muito que tinha deixado de o escrever. Ando assim... disse-me um dia uma pessoa que há alturas em que só escrevemos e outras em que só lemos, e outras ainda em que nem escrevemos, nem lemos.
Numa letargia profunda. Pensava eu que talvez na ausência de tudo surja a criação, e me venha a inspiração.
Mas de nada me tem servido a espera. Assim ando eu com a escrita, então se não escrevo, pensei, vou ler.
Fiz a minha lista "top", e enquanto aguardo pela Feira do Livro (outra das boas coisas de estar em Lisboa por estes tempos), permiti-me entregar a um só livro.

Estou a ler Paul Auster, "Inventar a Solidão". Não é propriamente uma história, é quase auto biografia do autor, na altura em que o seu Pai morreu e ele resolveu escrever sobre ele, sobre a família, a casa, ... tudo.
O centro está no seu relacionamento com o Pai, revelando uma personalidade complexa e misteriosa. E eu sublinho frases, tal é a riqueza do relato que ele faz.

Acerca da incapacidade horrosa e virulenta que se entranha em quem adora escrever, como eu, e quer escrever, mas não consegue, nem percebe porquê, ele diz:
"Tão grande era a minha necessidade de escrever que pensava que a história se escreveria a si mesma. Porém, até agora, as palavras têm saído muito lentamente. (...) Pareço extremamente afectado, amaldiçoado por uma qualquer insuficiência intelectual que me impede de me concentrar naquilo que estou a fazer".

"Nunca estive tão consciente do abismo que separa pensamento e escrita"

Nem eu...

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