Ser portuguesa e lisboeta.

O que faz deste micro País um acontecimento, para mim, tão especial, é que há coisas que só aqui acontecem.
Lisboa tem tudo o que é preciso para ser uma verdadeira capital europeia, bonitos edifícios, igrejas antigas, praças largas, ruas e avenidas, cafés e esplanadas, lojas, galerias e espaços bonitos; tudo o que uma cidade cosmopolita quer ter.
Mas depois, Lisboa tem aquelas coisas que só ela tem, só aqui, neste Portugal pequenino e curioso.
Fui até à Baixa e explorei os caminhos até chegar ao Poço do Borratém. Nesta rua pequenina, que une a Rua da Madalena ao Martim Moniz, está o Hospital das Camisas, um templo que ressuscita colarinhos e punhos, faz camisas por medida e opera autênticos milagres.
Ora, o meu Príncipe, que é um poço de saúde e elegância, já há algum tempo que baixou uns 3 números de camisas, era por isso simpático tentar apertá-las em vez de as deixar de usar.
O Hospital das Camisas fica na entrada da Junta de Freguesia de Santa Justa, ali junto ao vão das escadas que do lado esquerdo vão para a Junta e do lado direito segue-se para "A Lisbonense, Limpeza de Chaminés".
Enquanto me sentei no degrau, a esperar a minha vez, fui logo cumprimentada pelo Mel, um gato bonacheirão, propriedade da Junta mas que passa o dia cá em baixo a ver quem passa. Logo aqui temos um gato, que é da Junta, mas é de todos, o Hospital das Camisas e a limpeza de chaminés. Tudo isto numa porta de uma travessinha de pouco mais de 100 metros.
Despachado o assunto, regresso a casa passando pela Praça da Figueira e pelo Rossio. Lisboetas, visitantes, turistas - uma verdadeira cidade europeia.
Deu-me a vontade de um croquete e parei na "Tendinha do Rossio", uma tasquinha mesmo junto ao Arco que une o Rossio à Rua dos Sapateiros. É um sítio pequenino, com um curto balcão e meia dúzia de cadeiras, com uns óptimos salgadinhos para meio da manhã (as sandes de queijo fresco são um clássico da casa) e está ali desde 1840 a servir os lisboetas.
Mais uma vez temos a conjugação de fenómenos únicos: o croquete (coisa que eu acho ser 100% portuguesa, nunca vi isto em mais lado nenhum), o Rossio e uma tasquinha com 172 anos que resiste no mesmo lugar, com o mesmo propósito.
Voltei a casa subindo pela Rua do Carmo até ao Chiado, quase a chegar fui acenando à Flávia do Talho e à dona da Papelaria do Calhariz onde gasto continuamente dinheiro sem nenhuma razão aparente, a não ser a minha obsessão por Papelarias. E por nós ia passando o 28, sempre cheio de gente e de vida.
E é isto que me faz ser portuguesa e lisboeta. Adoro todos os Bairros de Lisboa, em todos encontro características que os tornam tão especiais.
Portugal é isto tudo e muito mais, coisas muito mais complicadas do que croquetes e camisas, mas isto é como gostar de Ópera.
Ou se adora ou se odeia.


Comentários

Anónimo disse…
Fico satisfeito quando vejo que tu tiras partido dessas coisas que fazem com que sejas uma pessoa feliz.
Para que haja um país é necessário haver um território e população.Nos dias que vão correndo vivem-se dias , ás vezes muito difíceis, que fazem pensar se é o território que não presta ou se é da população.Mas para ti isso são trocos.Ainda bem , fico muito contente.
redonda disse…
Há croquetes na Galiza, muito variados, como de presunto.

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