Love hurts (?)

 

Dediquei estes últimos dias à compreensão do Amor.

Usei a boa tática da linha temporal e imaginei uma reta. Como uma estrada longa e ampla.

Ao centro coloquei o Amor de Cristo. 

Aquele que veio à terra dizer apenas que nos amasse-nos uns aos outros, e que, por isso, foi crucificado e torturado. 

Referem os teólogos que segundo a história do amor, na fé cristã, a primeira arte é deixar-se amar - esse é o sentido da vida. E só pode amar quem aceita viver a sua própria solidão. 

À esquerda: o Amor antes de Cristo

Platão (428 a.c.)

Eros é Amor, e para a lógica grega, é a expressão característica do Homem. 

O amor deseja qualquer coisa que não tem e de que precisa e é, portanto, imperfeição. Amor é desejo de beleza, e deseja-se a beleza porque é o bem que torna feliz. A beleza é o objeto do amor.

Nas suas fases, desde a de principiante até à expressão máxima existe: a beleza do corpo, a da alma, pelas leis, instituições e a ciência, e no topo a beleza em si!

À direita: o Amor depois de Cristo. 

Filosofo francês século 21

O Amor é uma construção duradoura que se distingue do êxtase dos começos. O amor é uma aventura obstinada, que começa pela conceção romântica, segue-se a contratual e depois a construção de verdade.

O Amor é no seu limite uma reinvenção da vida. Amor é um processo de verdade e as pessoas gostam da verdade. Declarar amor é o começo de uma construção de verdade. A declaração do amor não ocorre uma única vez, pode ser longa, difusa, confusa, complicada, afirmada e reafirmada. 

Amar é lutar para além da solidão. «Amo-te» = há no mundo a fonte que és tu para a minha existência.

No todo, a música, a arte e a poesia 

Todas as canções, diria 90% das canções, são sobre amor. O correspondido e o não correspondido. Os desgostos, as alegrias. Os sonhos. O mesmo com a arte e a literatura, sobretudo a poesia. São quase sempre estados de alma - de um coração que fala.

Raras são as letras das músicas que falam sobre um amor fácil. É um jogo em que perdemos, dói, não se corre atrás, mas sente-se a falta, não se procura, encontra-se.

Ao longo da estrada que percorri, de conceitos e ideias sobre o amor, há coisas que escapam. 

A paixão e o desejo. A atração, a vontade, a química. Isso não é amor? E daí pode surgir amor?

O amor exige ser correspondido? Ninguém vive sem amor, mas há uns mais "capazes" que outros?

A estrada já segue longa, e não querendo fazer de mim uma descalça peregrina, já pisei muitas pedras. Tantas vezes quis parar de andar e só estar. 

Porque o amor dói. 

O amor romântico, parece-me, é o que dói mais - e isto, simplesmente, não faz sentido nenhum. 

Então, talvez esse não seja amor. O amor não dói, ele multiplica-se, alarga-se, estende-se, não é egoísta, é sereno e espera. É paciente, mas nem por isso ingénuo.

Então, talvez seja a paixão, o tal êxtase dos começos que se fecha num beijo, num cheiro novo, no toque que arrepia. 

E se ele se estender no caminho, então sim é o tal amor - a tal construção da verdade, a aventura obstinada. É desse que eu gosto de gostar. Mas não se sabe quando o caminho começa, se é para a verdade, sem tentar ou experimentar.

Então, voltamos aos começos.

E então vai doer. 

O que é, afinal, o amor?