Deolinda

101 anos.
102 no dia 7 de Março.

"Quantos dias faltam para dia 7 de Março?"
"Será que chego lá?"

Estava muito quieta encostada ao gradeamento, junto ao lugar onde estacionei o carro. Fiquei preocupada, perdi dois segundos e perguntei se estava a sentir-se bem.
"Estou muito bem. Estou a apanhar sol. Na minha casa não bate o sol, nem de Verão nem de Inverno. Devemos apanhar sol nas costas. Faz-nos bem."
De facto estava era serena, como um gato dormente quando se põe ao sol.
Mora na Bica, quando pode vai ali absorver o calor e os raios de sol, nestes dias de seco Inverno.
A pele faz a fotossíntese, o corpo carrega-se de energia.

O Flash cumprimenta-a. Aproveito o momento e pergunto-lhe o nome.
Deolinda. É de Sesimbra.
"Consegue adivinhar a minha idade?"

(Eu e os velhinhos. Não tivesse eu perdido dois segundos, não teria conhecido uma "vizinha" com 101 anos, vestidinha como uma boneca, de olhos sem cor, pele translúcida, sapatinhos pretos e malinha na mão. Com este horror que me aflige, de velhos a morrerem sozinhos, aconselho que se faça o mesmo por aí. Fale-se com eles. Toda a gente faz gugu-dádás aos bebés e ninguém troca um dedo de conversa com um velho. Eles não mordem. Mas morrem de solidão.)

Comentários

partilhamos de muitas sensibilidades, está visto... bjs Rita

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