O Paraíso na terra


Quando lemos numa revista que o sítio onde um dia vivemos é textualmente a versão terrena do paraíso celeste, é caso para se ficar a pensar.
Eu vivi lá, sim senhor, é verdade, mas vim-me embora. O paraíso é afinal insuportável?
Não sei.
No final de contas, e depois de ler as páginas dedicadas pela jornalista Patrícia Brito à Revista Up a descrever as Quirimbas como um lugar divino na terra, penso que tudo depende do que se espera quando se lá vai.
 
Se é para escrever umas páginas, tirar umas fotos, passar uns dias, mergulhar e ver golfinhos, dormir sob o céu mais estrelado do mundo e acordar sobre a terra mais virgem do universo, então sim, esse lugar para onde se vai é um paraíso.
Se por outro lado, é para "fugir" de fantasmas que não habitam em nenhum outro lugar senão dentro de nós, então não, esse lugar para onde se vai pode tornar-se num inferno.
Acerca do Ibo, ela escreve: "Tudo neste lugar tresanda a tempo." Há turistas "fascinados com a presença fantasmagórica do passado e anestesiados pela monotonia do presente".
Não o conseguiria escrever tão bem.
 
E é essa monotonia e esse tempo que se entranha na pele que faz daquele lugar tão especial, um sítio tão fora desta dimensão (talvez por isso mesmo chamá-lo de "paraíso"), em que a cor do mar, cheio de baleias e tartarugas, já era para mim tão natural como ter um Van Gogh na parede da cozinha.
O Ibo tornara-se para mim num paraíso insuportável. Os meus fantasmas não conseguiam fugir daquela ilha, encontraram até quem lhes fizesse companhia.
Naquela ilha só existe contacto com uma única realidade, a nossa. E isso é assustador só de pensar.
 
Foi a melhor lição de vida que tive, que num paraíso também existe um inferno e está dentro de nós o que se procura "retirar" e "usufruir" quando se vive uma experiência muito diferente da de um comum turista.
É que nas Quirimbas eu não fui turista, fui habitante. Daí deduzo que para quem visite o paraíso, maravilhas lhe parecem, mas talvez nem tanto para quem nele tenha de viver.
 
E isto tudo para dizer o quê, Rita?
Que não existem mundos perfeitos, lugares perfeitos, sítios perfeitos - que tudo depende de nós, em tornar o pior lugar na terra na mais bela maravilha do mundo.

Comentários

Unknown disse…
Olá Rita,
Escrevo-lhe porque vi o seu comentário no blog da Bimba Without the Lola.
Queria dizer-lhe o seguinte: a Rita é tão triste quanto todas essas bloggers que refere como "figuras deprimentes" quando generaliza dessa maneira. Sim, há muitos blogs de moda péssimos, com um português horrível e fotografias tiradas contra a cómoda da avó. Mas há também muitos blogs de pessoas que escrevem bem, têm cuidado com a qualidade fotográfica e têm até bastante criatividade. Se quiser que lhe indique alguns para ver se muda de ideias estou ao seu dispôr.
E quanto à sua dúvida existencial acerca do que fazemos da vida... posso dizer-lhe que eu, além de escrever o blog Miss Tangerine, estou no segundo ano da Faculdade de Medicina, moro em Lisboa com uma família normalíssima e hoje em dia financio a maior parte da minha roupa pelo blog, já que muitas marcas me propõem revisões das suas peças.
Espero que pelo menos considere adquirir outra percepção acerca de quem tem blogs de moda. Porque, acredite ou não, há quem os escreva porque gosta do tema, tal como a Rita escreve este sobre a sua vida porque o tema lhe é querido.
Muito boa noite,
Mariana
Rita disse…
Mariana,
Obrigada por ter passado por aqui!
É claro que existem bons blogues, contra isso não falo! Talvez tenha dado a ideia generalizada de que são todos maus, mas não foi isso que quis dizer!
Apenas que muitos dos que por aí existem são efectivamente péssimos, e a Mariana, que também tem um Blogue, sabe que cada pessoa tem a sua opinião e que nem todos gostamos do mesmo! Vou visitar o seu e continue a passar por cá.
até breve
Rita
Unknown disse…
Fico contente que a tenha feito ver outra perspectiva! Muito obrigada pelo tempo que gastou a "dar-me uma oportunidade"... até breve Rita! :)

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