diários de moçambique** #6
Diário de Moçambique. Volume 2. "as raízes do princípio".
16 de Março de 2011 (4ªfeira)
O Ibo foi engolido pela chuva!
Há 3 dias que praticamente mal vemos o céu, chove durante a noite e pela manhã, à tarde conseguimos sair de casa e ir ao pão ou dar um passeio.
Hoje parece ser a manhã mais cerrada. Chove muito e não há uma tonalidade mais clara no céu, está todo da mesma cor, de um cinzento líquido.
Às vezes dá para entender uma abertura, uma andorinha ou outra espreitam pela claridade, mas agora, nesta manhã, nada.
São 8:15 e cai uma quantidade de água tão grande que o barulho é ensurdecedor.
Eu, não sei porquê, gosto disto. Sempre gostei deste lado interior da chuva. A chuva tem de facto qualquer coisa de sentimento que o sol tem menos.
Gosto deste chorar da natureza, faz-me aliviar a dor de dentro. E aqui é tão forte e tão espessa que se torna viciante.
Quase que fico com pena quando sinto que vai parar... Agora, talvez pela força das palavras, cai com mais força. Mais drama, mais sentimento.
Afunda-se a água toda na terra, o nosso jardim começa a criar poças, lagos de chuva, até os bichos e os pássaros se escondem.
Há uma cortina branca no horizonte, tal é a espessura da chuva.
Ah! um momento de claridade, de céu cinzento mais amarelado. O enfraquecer do barulho. Mas, não. Voltou o cinzento, o outro mais escuro e ela aumenta o volume do seu choro.
E tudo muito suave, muito ordeiro, sem trovoada, relâmpagos ou vento. Uma cortina de chuva muda, genuína, inteira.
Novamente o abrandar, é assim o jogo dela, indo, vindo, aumentando e diminuindo. Do lado direito é só cinzento, do lado esquerdo um amarelo que teima em vingar.
Parece que é do lado direito que ela vem. Que brutalidade de água. Que água tão preciosa para esta terra.
Deus queira que também chova no Continente... ah. Parece que já a ouço. A trovoada? Será? É um ronco constante ou será só mesmo a minha impressão da força da água, do barulho das gotas a cair no chão.
Serenou para agora dar lugar aos restos de água que vão pingando de tudo o que ela molhou.
Primeiro ouvem-se sempre os pássaros, agora vozes na rua. Um galo. E o jogo naquele tabuleiro, com o barulho do copo a jogar os dados.
Agora são só gotas.
Tudo aquilo foi um delírio.
Há mais cinzento escuro do lado direito e o amarelo continua lá.
A ver agora.
Aguardo por algo mais.
Comentários
Do lado direito é só cinzento , do lado esquerdo um amarelo que teima em vingar.
Há mais cinzento escuro do lado direito e o amarelo continua lá.
Etc , etc.
Podia ser parte da descrição de uma pintura , mas não é , é a descrição de uma tempestade tropical no norte de moçambique.É muito bonito.Quem diria.