power women
Umas das (imensas) novidades do ano 2014, é a de que faço parte de um clube de leitura, o "Déjà Lu - book club".
Tudo se passa em Cascais, é só mulherio e é óptimo!
Este mês houve a segunda sessão do ano, para a qual tinhamos de discutir / ler autores indianos.
Três coisas não faltam nestes encontros: livros (pois), comida e vinho.
Para esta última sessão, fomos buscar comida indiana e tudo levou um aroma a chamuça e a arroz basmati!
Claro que embrulhada nos livros, há a conversa típica de mulheres - confusa, sem nexo, deliciosa.
E novos elementos (sempre femininos) vão-se juntando.
Eu que sou dada às místicas da vida, acho que nada, ou quase nada, nos acontece por acaso - excepto tsunamis e tal, mas os nossos tropeços são quase sempre resultado de um devir de comportamentos, movimentos e decisões.
A história começa assim:
Quanto tinha uns 13 anos fui com a minha Mãe ao cabeleireiro. Havia um casamento nesse fim de semana, e eu lá ia alisar a trunfa de cabelo que tinha.
A certa altura, no meio daquela movimentação típica, entra uma "senhora" (teria uns 20 e tal anos) que eu reconheci logo como sendo a actriz Leonor Silveira.
Além de ser aqui de Cascais, era (e ainda é) amiga dos meus primos mais velhos e por isso sabia bem que era. Lindíssima, cativante e misteriosa.
Também tinha um casamento e vinha pentear o cabelo. Fez um apanhado. Ficou ainda mais bonita.
E eu, a partir desse dia, jurei a mim própria que quando um dia tivesse idade e autoridade suficiente para mandar nos meus penteados, haveria de apanhar o cabelo.
E assim foi e continua a ser.
Quem me conhece sabe bem dos meus apanhados, de pescoço e ombros nus. Adoro.
Nunca mais vi a Leonor Silveira, até ela entrar pela sala do clube de leitura, sentar-se no sofá com uma pilha de livros indianos e aguarda-se pela vez de falar.
Não me contive. Quando chegou a parte das apresentações, eu disse quem era e contei-lhe a história do apanhado.
Foi um momento todo emotivo! A Leonor ficou sensibilizada e eu corei :)
Depois, num tom de voz tão intenso como ela, leu uma belíssima passagem de um dos livros que tinha levado, e que me deixou com imensa vontade de ler, "Carruagem para Mulheres" de Anita Nair.
(Sinopse by wook: Akhila é uma mulher de quarente e cinco anos, solteira, empregada nas Finanças, a quem nunca foi permitido viver a sua própria vida; foi sempre a filha, a irmã, a tia, o sustento. Até ao dia em que compra um bilhete de ida para a cidade de Kanyakumari, à beira-mar, heroicamente só pela primeira vez na vida e decidida a libertar-se de tudo o que lhe foi imposto. Na atmosfera íntima da carruagem para mulheres, Akhila penetra nos momentos ,mais privados das suas vidas, procurando neles a solução para a pergunta que a acompanha desde sempre : poderá uma mulher ficar solteira e ser feliz, ou será que precisa de um homem para se sentir completa?)
E novos elementos (sempre femininos) vão-se juntando.
Eu que sou dada às místicas da vida, acho que nada, ou quase nada, nos acontece por acaso - excepto tsunamis e tal, mas os nossos tropeços são quase sempre resultado de um devir de comportamentos, movimentos e decisões.
A história começa assim:
Quanto tinha uns 13 anos fui com a minha Mãe ao cabeleireiro. Havia um casamento nesse fim de semana, e eu lá ia alisar a trunfa de cabelo que tinha.
A certa altura, no meio daquela movimentação típica, entra uma "senhora" (teria uns 20 e tal anos) que eu reconheci logo como sendo a actriz Leonor Silveira.
Além de ser aqui de Cascais, era (e ainda é) amiga dos meus primos mais velhos e por isso sabia bem que era. Lindíssima, cativante e misteriosa.
Também tinha um casamento e vinha pentear o cabelo. Fez um apanhado. Ficou ainda mais bonita.
E eu, a partir desse dia, jurei a mim própria que quando um dia tivesse idade e autoridade suficiente para mandar nos meus penteados, haveria de apanhar o cabelo.
E assim foi e continua a ser.
Quem me conhece sabe bem dos meus apanhados, de pescoço e ombros nus. Adoro.
Nunca mais vi a Leonor Silveira, até ela entrar pela sala do clube de leitura, sentar-se no sofá com uma pilha de livros indianos e aguarda-se pela vez de falar.
Não me contive. Quando chegou a parte das apresentações, eu disse quem era e contei-lhe a história do apanhado.
Foi um momento todo emotivo! A Leonor ficou sensibilizada e eu corei :)
Depois, num tom de voz tão intenso como ela, leu uma belíssima passagem de um dos livros que tinha levado, e que me deixou com imensa vontade de ler, "Carruagem para Mulheres" de Anita Nair.
(Sinopse by wook: Akhila é uma mulher de quarente e cinco anos, solteira, empregada nas Finanças, a quem nunca foi permitido viver a sua própria vida; foi sempre a filha, a irmã, a tia, o sustento. Até ao dia em que compra um bilhete de ida para a cidade de Kanyakumari, à beira-mar, heroicamente só pela primeira vez na vida e decidida a libertar-se de tudo o que lhe foi imposto. Na atmosfera íntima da carruagem para mulheres, Akhila penetra nos momentos ,mais privados das suas vidas, procurando neles a solução para a pergunta que a acompanha desde sempre : poderá uma mulher ficar solteira e ser feliz, ou será que precisa de um homem para se sentir completa?)
"Sou uma vela sem pavio. Sou aquilo que as mães dos recém-nascidos e as noivas receiam. Sou aquela contra quem elas previnem com uma mancha negra na face esquerda da sua filha. Sou a razão que turva os olhos de um pai. Faço com que as irmãs mais novam receiem que eu faça parar as vidas delas. Faço chorar as mães. Encho os recantos de uma casa com a minha presença e faço cair os seus telhados com a minha mágoa por consolar.
Sou a quem tem os dentes compridos. Sou os vestígios frios no fundo de uma chávena. Sou a mercadoria que ninguém quer. Sou a lata por usar na prateleira do fundo.
Faço azedar o leite com o meu hálito. Posso transformar em cinzas tudo o que é verde e fecundo. Os charcos secam quando eu os piso. A terra estremece com o meu suspiro. As nuvens de chuva dissipam-se quando eu poiso nelas o meu olhar. Os bebés choram quando lhes passo um dedo pelas sobrancelhas. Não sangro, em vez disso, armazeno em mim os esporos de um milhão de ódios.
Sou o pesadelo que faz acordar as jovens esposas. Sou o restolho de saias que todas as mulheres receiam. Sou uma praga. Sou a sombra do mal. Sou o ogre que entope os poços de genes e devora os maridos.
Levo às costas todos o medos, todos os suspiros negros e todos os pensamentos atormentados que atravessam o espírito humano. A minha pele é opaca. Os meus olhos são espelhos pintados. A minha voz está impregnada pelo fedor corrosivo da amargura. O meu odor é o da naftalina. O meu nome, quando é pronunciado, soa a derrota."
(é excusado confessar que a pergunta da Akhila é a que nós vamos fazendo, de vez em quando, ou mais de quando em vez, nas sessões deste Clube de feministas em catarse!)
(é excusado confessar que a pergunta da Akhila é a que nós vamos fazendo, de vez em quando, ou mais de quando em vez, nas sessões deste Clube de feministas em catarse!)
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