Missão Niassa - Parte I
Sete dias.
2.500 km.
40 horas de condução.
Uma Toyota Hillux 4x4.
Um mapa e dois guia de viagem.
Uma mochila e um saco cama.
Um pneu furado.
Partida: Domingo, 10 de Julho.
Saímos de Pemba às 5 da manhã.
Assim que me meti no carro senti logo que já tinha saudades de fazer viagens de carro, de sair pela estrada africana e de ver o nascer do dia.
É a melhor hora para se ver a vida das pessoas por aqui. Às 5 e meia da manhã é completamente dia, e há uma agitação fervente na rua. Gente e mais gente, sempre na berma da estrada, a carregar tudo na cabeça: cestas de fruta, tomate ou pepinos, sacas de arroz, farinha da mandioca ou feijão, baldes de água, lenha, troncos, enxadas, tudo serve para se levar no topo.
As mulheres sempre de bebés colados nas costas, a dormir ferrados de barretes enfiados na cabeça (está muito mais fresco por esta altura do ano, é Inverno!).
Gosto de viajar por estas estradas de vida. Mercados e barracas que vendem tudo, roupa usada, motas, bicicletas, mandioca, tomate, feijão e piri-piri. Cabras, cães e galinhas, crianças e mais crianças. Fogueiras e queimadas. Vida e mais vida.
Aproveitando o facto de estarmos na época seca, não quisemos desperdiçar a oportunidade de conhecer o tão misterioso Niassa.
Misterioso porquê? Perguntam vocês, meus caros leitores sempre atentos.
Porque o Niassa é a segunda maior reserva natural africana, com 42 mil km2, e só há pouco mais de 20 anos é que se começou a levar o assunto mais a sério. Criado nos anos 60, para a conservação e defesa de elefantes e rinocerontes, o Niassa sempre foi um filho perdido de Moçambique, vítima de caça furtiva, na incompreensivel busca de marfim e de um isolamento atroz - as estradas até lá são más, algumas quase impraticáveis, os acessos sem qualquer indicação e as comunicações praticamente inexistentes.
Neste momento alberga cerca de 12 mil elefantes, 9 mil antílopes e uns tantos búfalos, zebras e hipopótamos, além de leopardos e aves.
Quando nos arriscamos a conhecer o Niassa, sabiamos que não seria fácil. Principalmente porque adoptamos a opção de ir de carro, há dezenas de pistas de aterragem dentro da reserva, mas uma viagem de avião pode custar até 1000 usd por pessoa.
Seria uma viagem feita em várias etapas, naturalmente e por isso estavamos preparados para talvez ter de dormir no carro ou repensar todo o percurso.
Além da Reserva, também queriamos conhecer o Lago Malawi/Niassa, mas pensamos em ir conhecer do lado do Malawi (porque o alojamento é muito mais barato), daí neste primeiro troço iriamos seguir até junto à fronteira para depois passá-la.
Esta primeira etapa da viagem trazia também uma boa notícia para mim: iria voltar a admirar os fabulosos inselbergs! As montanhas de rocha compacta, feita de granito vulcânico, com milhares de anos. Adoro estas montanhas tão diferentes e únicas entre si, e muitas estão cravadas de pinturas rupestres! Para mim são montanhas muito especiais e é nesta região do Norte- interior que há em maior número.
De Pemba seguimos até Nampula, e daí para Cuamba. De Nampula a Cuamba há uma linha de comboio que dai segue para o Malawi. É uma linha activa e cheia de passageiros que andam entre o interior e a cidade de Nampula, trazendo para o País muitos legumes e fruta, já influência do verdejante Malawi.
Todos os dias sai um comboio dos dois extremos às 5 da manhã e demora 12 hora a chegar ao destino. Era engraçado passar pela linha, quando as pessoas sabiam que o comboio já tinha passado e ver a vida por ali fora. Crianças a brincar, feijão a secar, cana de açúcar estendida, cabras a pastar, homens a caminhar pelos carris. Chegamos a passar por uma Estação datada de 1939.
Eu gosto muito de comboios e das viagens de comboio! Acompanhar esta linha foi uma dupla viagem, de carro e ao longo dos carris.
Cuamba é uma cidade cheia de agitação, tem uma Universidade e uma Estação de Comboios movimentada. Após 11 horas de viagem, chegamos ao pôr do sol e depois de um jantar de galinha do campo (dura como um pneu) fizemos umas boas horas de sono.
Amanhã seria um novo dia de viagem!
(Continua)
Nota: As fotos da viagem serão publicadas num post à parte. Estou no Ibo e a internet é do tempo dos inselbergs...
2.500 km.
40 horas de condução.
Uma Toyota Hillux 4x4.
Um mapa e dois guia de viagem.
Uma mochila e um saco cama.
Um pneu furado.
Partida: Domingo, 10 de Julho.
Saímos de Pemba às 5 da manhã.
Assim que me meti no carro senti logo que já tinha saudades de fazer viagens de carro, de sair pela estrada africana e de ver o nascer do dia.
É a melhor hora para se ver a vida das pessoas por aqui. Às 5 e meia da manhã é completamente dia, e há uma agitação fervente na rua. Gente e mais gente, sempre na berma da estrada, a carregar tudo na cabeça: cestas de fruta, tomate ou pepinos, sacas de arroz, farinha da mandioca ou feijão, baldes de água, lenha, troncos, enxadas, tudo serve para se levar no topo.
As mulheres sempre de bebés colados nas costas, a dormir ferrados de barretes enfiados na cabeça (está muito mais fresco por esta altura do ano, é Inverno!).
Gosto de viajar por estas estradas de vida. Mercados e barracas que vendem tudo, roupa usada, motas, bicicletas, mandioca, tomate, feijão e piri-piri. Cabras, cães e galinhas, crianças e mais crianças. Fogueiras e queimadas. Vida e mais vida.
Aproveitando o facto de estarmos na época seca, não quisemos desperdiçar a oportunidade de conhecer o tão misterioso Niassa.
Misterioso porquê? Perguntam vocês, meus caros leitores sempre atentos.
Porque o Niassa é a segunda maior reserva natural africana, com 42 mil km2, e só há pouco mais de 20 anos é que se começou a levar o assunto mais a sério. Criado nos anos 60, para a conservação e defesa de elefantes e rinocerontes, o Niassa sempre foi um filho perdido de Moçambique, vítima de caça furtiva, na incompreensivel busca de marfim e de um isolamento atroz - as estradas até lá são más, algumas quase impraticáveis, os acessos sem qualquer indicação e as comunicações praticamente inexistentes.
Neste momento alberga cerca de 12 mil elefantes, 9 mil antílopes e uns tantos búfalos, zebras e hipopótamos, além de leopardos e aves.
Quando nos arriscamos a conhecer o Niassa, sabiamos que não seria fácil. Principalmente porque adoptamos a opção de ir de carro, há dezenas de pistas de aterragem dentro da reserva, mas uma viagem de avião pode custar até 1000 usd por pessoa.
Seria uma viagem feita em várias etapas, naturalmente e por isso estavamos preparados para talvez ter de dormir no carro ou repensar todo o percurso.
Além da Reserva, também queriamos conhecer o Lago Malawi/Niassa, mas pensamos em ir conhecer do lado do Malawi (porque o alojamento é muito mais barato), daí neste primeiro troço iriamos seguir até junto à fronteira para depois passá-la.
Esta primeira etapa da viagem trazia também uma boa notícia para mim: iria voltar a admirar os fabulosos inselbergs! As montanhas de rocha compacta, feita de granito vulcânico, com milhares de anos. Adoro estas montanhas tão diferentes e únicas entre si, e muitas estão cravadas de pinturas rupestres! Para mim são montanhas muito especiais e é nesta região do Norte- interior que há em maior número.
De Pemba seguimos até Nampula, e daí para Cuamba. De Nampula a Cuamba há uma linha de comboio que dai segue para o Malawi. É uma linha activa e cheia de passageiros que andam entre o interior e a cidade de Nampula, trazendo para o País muitos legumes e fruta, já influência do verdejante Malawi.
Todos os dias sai um comboio dos dois extremos às 5 da manhã e demora 12 hora a chegar ao destino. Era engraçado passar pela linha, quando as pessoas sabiam que o comboio já tinha passado e ver a vida por ali fora. Crianças a brincar, feijão a secar, cana de açúcar estendida, cabras a pastar, homens a caminhar pelos carris. Chegamos a passar por uma Estação datada de 1939.
Eu gosto muito de comboios e das viagens de comboio! Acompanhar esta linha foi uma dupla viagem, de carro e ao longo dos carris.
Cuamba é uma cidade cheia de agitação, tem uma Universidade e uma Estação de Comboios movimentada. Após 11 horas de viagem, chegamos ao pôr do sol e depois de um jantar de galinha do campo (dura como um pneu) fizemos umas boas horas de sono.
Amanhã seria um novo dia de viagem!
(Continua)
Nota: As fotos da viagem serão publicadas num post à parte. Estou no Ibo e a internet é do tempo dos inselbergs...
Comentários
Espero que consigas publicar todos estes relatos!