Pedimos desculpa pela interrupção...

... A emissão segue dentro de momentos.


Ora, desde o minuto em que aterrei em Joanesburgo que percebi que entrava numa nova dimensão.
Daí a interrupção, relembrando a imagem que aparecia na televisão há uns 20 e tal anos atrás.
(gente da minha geração "rasca" recorda-se bem desta linda imagem; ainda está para vir alguém explicar qual a lógica daquele quadrado, aquelas cores, riscos, etc...).

Uma coisa é viver em Moçambique, que já longamente expliquei com bolos e bolos, fornadas e fornadas de relatos e imagens. Outra coisa é: fazer turismo em Moçambique.
Não querendo desaminar quem para lá vai na sua próxima lua-de-mel, ou viagem aventura de 12 dias e 3/4 de hora, mas Moçambique é duro. Não é duro, é duríssimo!
Os hóteis ou são super caros, ou são péssimos. O meio termo não há.

Ou por outra, explico: se paguei 62euros para dormir em Montepuez, foi porque ou tinha direito a um quarto limpo com casa de banho e duche de água quente (sem toalhas, claro!), mas mesmo assim era nas traseiras de uma casa, com a cozinha ao lado do quarto, e todo o odor dos fritos no ar, e uma bomba de água que funcionava de 3 em 3 segundos e fazia um barulho insuportável, ou então dormia com a tenda em cima da cama, pois era sempre melhor fecharmo-nos dentro de um ambiente hermeticamente acondicionado, com uma suposta casa de banho, sem lavatório, um quadrado de cimento para deitar uns baldes de água fria e com toda a fauna que abunda nestes espaços, que vai desde o sapo, à barata, ao mosquito multiplicado em milhares e toda a malária do mundo está dentro daqueles escassos metros quadrados (e que mesmo assim me custaria uns 10 euros).

Ficar a dormir num alojamento moçambicano é algo para mim que está entre viajar no comboio da selva na Feira Popular quando tinha 7 anos e uma nuvem de gafanhotos ao longe.
Entendei, meus caros leitores, que eu nunca me aprofundei este assunto porque estava cega, e não via. Achava que, pronto, era assim mesmo, já não nos baterem era um alívio e por isso ficava sossegadinha. O conceito de "turista" é coisa vaga para o geral do jeito Moçambicano de receber as gentes estrangeiras... (não falemos de Maputo, mas de todas as outras Províncias que já conheci, sendo que só me ficou a faltar Tete e em todas dormi em alojamentos ou hóteis).

Até que cheguei à África do Sul. Um País cheio de controvérsia, cheio de problemas, como a migração ilegal, SIDA, desemprego, e ainda uma profunda divisão entre negros e brancos.

Pensei que a coisa fosse melhor, mas nunca tão boa como tem sido...

Bom, logo à chegada ao Aeroporto, nos Serviços de Migração foi assim (em Inglês): - Bom dia. - Bom dia. - Vens de onde? - De Maputo. Toma lá o meu Passaporte. Tunga, toma lá um carimbo e um visto por 3 meses. - Quanto custa? - Nada, filha, é de borla! Diverte-te!
A malta assim que põe o pé em Moçambique dá logo 50 euros por um visto que dura 1 mês.
E para estender esse visto sofre como um cão vadio, lambe o pó das paredes, chora nos balcões do Serviço de Migração, pede para não ter nascido, roe as unhas dos pés e arranca as pestanas.
De peito cheio entramos na República de África do Sul directos em Joanesburgo. Obviamente que é uma cidade carregada de crime e de violência, mas optamos por ficar em casa de uns amigos que conhecemos no Ibo e já lá vivem há mais de 30 anos. Três dias foram ideais para conhecer um pouco a vida daquela cidade absolutamente gigante.

Depois resolvemos apanhar um comboio até aqui, onde estamos, em Cape Town.
Informamo-nos que havia uma companhia que fazia diariamente este trajecto: 27 horas. Atravessar todo o País, 1.600 km de uma África fértil e próspera. Foi uma viagem absolutamente mágica, carregada de episódios que vão dar em fornadas, mas agora tenho urgência em partilhar esta outra questão.
A facilidade para a vidinha simples do turista que quer conhecer este País. Compramos os bilhetes na net (claro!) e reservamos um compartimento para 4 pessoas (os de 2 estavam já cheios), 32 euros cada bilhete.
Pelas 17h00 vieram fazer as caminhas com lençóis, almofadas e cobertores. 4 euros o kit a cada um. No Restaurante fomos logo de pé atrás, como bons tugas que somos, e sabemos que quando se apanha alguém num ambiente fechado em que não há hipótese de fugir, o tuga pede 50 euros por uma sandes de queijo. Isto é o que se passa no Aeroporto de Lisboa, nos Alfas para o Porto, etc... é tudo um horror, mas pronto, tinha de ser.
Qual não foi o nosso espanto quando pagamos 7 euros pelo almoço, com um cheese burguer, um frango com arroz e legumes e duas limonadas. Era tudo assim, até uma garrafa de vinho vinha por 5 euros.

É certo que passamos o maior frio das nossas vidas, com direito a traumas que se estenderam à compra desenfreada de meias e cachecóis, casacos e o que mais nos pareça com um cobertor! Mas tivemos o azar de apanhar um frente fria que varreu o País inteiro.
E em Cape Town? Perguntam os meus caros leitores!
Hotel por 55 euros a noite, no centro, centro, com pequeno almoço, wi-fi no quarto de borla, banho e toalhas, frasquinhos de shampoo e creme hidratante e tal. (com a falta de hábito vim de sabonete atrás...)
É certo que de hora a hora tenho de me relembrar de que estou em África, porque caso contrário rapidamente transito para Amesterdão ou Londres.

Só me pergunto se Moçambique não poderia um dia também ter um Campeonato do Mundo e ser um destino excelente de férias?
Óbvio que se pagar 500 usd por pessoa, durmo num luxo magnífico em Moçambique, mas isso não é exequivel, ou apenas o é para 3% da população mundial.
Só vejo chineses naquela terra a tirar-lhe tudo o que tem de único, e gostaria ver mais gente de todo o mundo a caminhar para lá, a tirar montes de fotografias e a contar como foram as suas férias magníficas, como eu estou a fazê-lo, neste exacto momento.


P.S - Fotos para breve. Ainda não fomos à Table Mountain, mas já compramos os bilhetes, na net, têm duração de 15 dias e posso devolvê-los perdendo 1 euro por cada um...



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