das cinzas...

A Madeira. Viseu. Tomar. Tavira...
Ontem, pela hora do almoço, a caminho de Cascais, indo pela Auto-estrada e ao mesmo que olhava para a Serra de Sintra, pensei em voz alta: "Este calor e este vento é tudo o que é preciso para acontecer um grande incêndio..."
Não foi um. Foram quatro (até agora, além de uma Fábrica que ardeu com 9 mil pintos).
Cresci a viver o Verão com o coração na boca. A Serra de Sintra era sempre a mesma angústia.
Estava eu na Praia do Guincho, ou mesmo em casa dos meus Pais, e lá se vi o fumo denso e negro, ou se ouviam as sirenes dos Bombeiros em alta rotação.
E cheirava sempre a queimado e as cinzas chegavam a mim, como chega esta péssima lembrança dos meus Verões de criança pequena, em que não compreendia porque o fogo não se apagava de uma vez por todas.
Agora já sei que para apagá-lo é preciso haver quem lá se chegue. A pé, de carro, ou de avião. E para isso também é preciso dinheiro, e votos, e políticos.
Para mim não há conjugação de um cenário mais terrível.
Ver os bombeiros de braços estendidos e olhos pregados no chão, mangueiras secas, baldes vazios, pessoas a verem a sua vida a ser consumida, animais e pássaros perdidos, árvores e floresta dizimadas.
Quase que prefiro um tsunami a um incêndio descontrolado. O fogo apaga a terra, deixando-a estéril e feia.
E não há que se possa fazer (?).
Sempre me fez confusão ficar a ver o fogo, como quem assiste ao foguetes na noite da passagem de ano.
As imagens da Madeira, e agora mesmo com vários focos de incêndios a reacender, deixam-me de cabeça perdida. Não há nada que se possa fazer (?).
O que é aquilo?
Parece um inferno na terra, e nada justifica que aquelas pessoas mereçam ou tenham de passar por isto.
A voracidade do fogo é mil vezes superior a qualquer capacidade humana, o vento é gasolina em estado puro e este calor é um rastilho de pólvora.
Nada me resta senão escrever este desabafo e mandar palavras de alento a quem hoje vive este inferno.
E ainda a minha profunda graditão e respeito pelos bombeiros, autênticos soldados da paz e heróis desta história que se quer com final feliz.
Que das cinzas renasce a vida, e a natureza revive-se, mas há queimaduras que no homem não passam durante uma vida inteira - e sobre essas, aí sim, nada de pode fazer. Mesmo.

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