Descascar Favas (ou ervilhas).

A ausência de textos no meu Blog é, para mim, inversamente proporcional à quantidade de ideias que se acumulam no meu cerebelo. Bom, bom era haver um cabo USB que se ligasse do cerebelo à net e eu despejava tudo num instante!

Ora vejamos: voltei de Moçambique, fiz uma viagem à África do Sul, fiz 34 anos, cheguei a Lisboa, cá está calor, lá era Inverno, fechei as portas de duas casas, abri a porta da minha casa, acordei sem saber onde estava, estou em Cascais, mas nestas últimas semanas já acordei no meio de uma montanha num Canyon, no Niassa a ouvir leões e em Lisboa com o 28 a subir a Calçada do Combro, cá a água do mar é gelada, lá era quente e mole, cá toda a gente está em crise, lá a crise não está em lado nenhum.

Às tantas não sei se devo esquecer isto tudo, só pela trabalheira que é organizar este monte de ideias, ou antes dar-lhe a devida atenção e esperar por, quem sabe, um resultado divertido.
Era como quando eu me sentava com a minha Mãe, cada uma no seu banco, e um alguidar cheio de favas (ou seriam ervilhas?) para descascar, que ficávamos com as mãos encardidas de negro, que era uma tarefa ingrata e feita debaixo de sol e calor, mais fácil era meter aquilo tudo num buraco e ir ao supermercado comprar umas embalagens da Iglo. Mas não. Era muito mais divertido descascar as favas. (o que dizem é que com a "idade" as pessoas tendem a deixar de achar as coisas divertidas e querem meter tudo em buracos, mas isso é outra conversa e mais um "caju" pendurado no meu cerebelo).

Mais uma: é bom estar tanto calor e eu não ter de ir à praia, porque sim. Porque se deve ir à praia, quando está calor e bom tempo. Mas não. Afinal, não. Libertei-me desse espírito maligno que anda por aí à solta e que diz que se fazemos anos devemos nos divertir e estar com montes de amigos, que se pagamos uma multa não devemos no mesmo dia comprar uma t-shirt na Zara, que se queremos parecer cultos temos de ler os jornais todos os dias, que se é Verão devemos emagrecer e estar bronzeados e se é Inverno devemos comprar botas de cano alto e beber coisas com espuma e coberturas especiais, que se temos um Blog devemos escrever sobre coisas interessantes e que se queremos ser escritores temos de escrever todos os dias.

Quero descascar favas ou ervilhas, tanto faz, e ficar com as mãos todas sujas e ser 105% mais lógico ir comprar umas embalagens aos Mini-Preço (que agora até há a preços bem em conta e com qualidade). Mas assim tenho o cheiro do calor, as vagens a tocar na minha pele e a encher impressões digitais de terra, a conversa solta entre cada um que vai descascando, um alguidar a ir ficando cheio e outro mais vazio, a cor das bolinhas verdes, o interior das vagens feito de veludo, algumas bolinhas que saltam e fogem e o calor que vai entrando na conversa.
É mais divertido, eu acho.
Até breve, vou-me agora sentar ali no banquinho.

Comentários

Anónimo disse…
Que beleza de texto, tão fresquinho ...parece mesmo que estou ao teu lado, passados tantos anos!
Também eu sempre gostei de fazer esses trabalhos...e ainda hoje faço pelo prazer de o fazer bem feitinho e ver o fruto do meu trabalho, qual formiguinha!!!
Anónimo disse…
Pois é.Estás de volta.Cheia de coisas para dizer.É muito importante que TODAS essas coisas que sempre tiveste de dizer não fujam e que fiquem bem entre nós.Temos que estar ao nível da tua escrita.Por dentro e por fora.Vou ter de falar com quem deve para não ser escandaloso que os familiares não estejam ao nível do artista.Ainda bem que estás de volta.
João disse…
Eram ervilhas senhora!!!
Pois se só muito entrado na maioridade descobri as potencialidades gastronómicas da fava!!!
E o arroz de ervilhas era acompanhamento regular de uns bons croquetes ou rissois de camarão!!!
Ainda bem que voltaste.

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