Semana I ; Joanesburgo – Cape Town – Saldanha Bay – Stellenbosch









































































































Por muito que me tivessem avisado de que África do Sul era qualquer coisa de extraordinário, eu confesso que nunca estive realmente preparada para o “choque” (texto 29 de Julho, “Pedimos desculpa pela interrupção…”).





O choque foi também ele térmico, porque apanhamos temperaturas negativas, além de ventos gélidos e neve. Era Inverno, pois era, mas também era em Pemba, onde o termómetro teimava em não baixar além dos 27ºC. A nossa roupa toda junta teria um total de 1,9% de lã, sendo ela 98,1% de algodão, o que para se estar uma cidade que chegou a ter 2ºC, foi um verdadeiro desafio de estilo e moda. Foram camisolas em cima de camisolas e muito frio que se rapou em Joanesburgo. A cidade má, a cidade feia de África do Sul. Carregada de minas de ouro e platina, assim como quem não quer a coisa, de “guetos” de vivendas gigantes cercadas por muros enormes e mais arame electrificado, de vidas fechadas dentro de centros comerciais, escadas rolantes e seguranças em cada esquina. Não é uma cidade bonita, nem muito apetecível de se visitar, mas está carregada de mensagens e de histórias. Ainda lá vive o Nelson Mandela, tem 5 milhões de habitantes, é o maior centro industrial e financeiro do País, tem o maior e mais movimentado Aeroporto de África, tem uma grande comunidade de emigrantes portugueses/ moçambicanos, de brancos e pretos que não se misturam, nem nunca se querem misturar, mas que assim vivem naquele pedaço de terra a 1.753 m de altitude, habitado há milhões de anos pelo Homem (há vestígios de vida humana há 3,3 milhões de anos).






De “Jo’burg” partimos para Cape Town de comboio: vinte e sete horas atravessando quase todo o País. Saímos pela hora do almoço e chegamos à Cidade do Cabo no dia seguinte pelas 15h00. Tudo funcionou bem com a compra dos bilhetes e a reserva dos lugares, só me assustei com a quantidade de gente que se apresentava na Estação de Comboios e no terminal à hora da partida. Só faltava mesmo o transporte de uma cabrinha ou uma galinha, porque de resto estava lá tudo: sacas de tralha, cobertores e roupa, crianças ranhosas aos gritos, gente e mais gente. E nós os dois, com as nossas mochilas, no comboio 70081, carruagem 11, compartimento F. Aquele povão todo, que parecia estar nas bilheteiras do Estádio da Luz em dia de jogo com o Porto, ficou nas carruagens “Sitter” (sentados); nós, e mais uns quantos casalinhos no mesmo registo e alguns viajantes sozinhos, ficamos na “Sleeper” (dormidas). Pouco antes do pôr-do-sol (pelas 17h) vieram fazer as caminhas. Por uns 4 euros tivemos direito a lençóis, dois cobertores e duas almofadas para cada um. Para mim, que fiz o inter-rail nos meus tempos de Faculdade, era um upgrade considerável, com direito até a utilizar o Restaurante do comboio e poder escolher o que quisesse do Menu!






O pior nesta viagem foi mesmo frio. Atravessámos uma frente fria, que, além de neve nas montanhas, trouxe uma chuva miudinha, e eu, debaixo dos dois singelos cobertores, sentia-me como dentro de um saco de ervilhas congeladas. Acho que nestes anos de vida, nunca tive tanto frio! Foi horrível e traumático, deixou tamanhas marcas, que ainda hoje, em Lisboa, equaciono usar meias e a dormir de edredão, com um aquecedor tipo TEFAL ligado no 6 a noite toda. (a simples ideia de ainda ter de passar por uma Estação do ano que se chama Inverno, deixa-me com tremeliques).





Como em tudo, quando uma sensação muito forte se associa a uma experiência na nossa vida, isso fica marcado para sempre. Assim, aquela experiência que se queria bem divertida de uma viagem de comboio (e logo eu que gosto tanto de comboios) ficará eternamente marcada por um frio glaciar. Nem mesmo o facto de a meio da noite, nos terem entrado pelo compartimento adentro dois polícias armados, com coletes anti-bala, revistado as nossas coisas e pedido os nossos passaportes, eliminou o frio da coisa:




- Afrikaans or foreigners?! - Foreigners, Sir! (perninhas a tremer, de frio ou de nervos com aquele cenário?)
- Where from?! - Portugal, Sir! (lá vamos nós outra vez…)
- Huum…







O frio apoderou-se de toda a experiência “comboial”, e por isso, mal chegámos a Cape Town, fomos comprar cachecóis, calças, camisolas e um blusão. E mais teríamos comprado, completamente descontrolados, não fosse eu lembrar-me: “ah… mas lá em Lisboa é Agosto, certo?”.





Só existe um “mas” nisto tudo, é que o Inverno Sul-africano é geralmente acompanhado de um sol luminoso em céu azul celeste. Confirmou-se que, em Cape Town, tivemos um tempo fantástico, com quilos de sol altamente nocivo, porque é daqueles que dá logo dores de garganta e tal, e como nós estávamos sôfregos por nos aquecermos de alguma maneira, espetamos com o nosso cocuruto ao sol, estando por isso ainda hoje a pagar esse comportamento animal e de sobrevivência pura.








A Cidade do Cabo é uma cidade feita pelo homem, onde hoje existem ruas e prédios, antes era uma praia. A primeira vez que algum homem fala desta cidade, foi um português de seu nome Bartolomeu Dias. É uma cidade de vida simples e de gente muito acolhedora e simpática. Não tem grandes prédios, nem grandes avenidas, fazendo lembrar cidades americanas com casas de primeiro andar e varandas em ferro furjado, tipo New Orleans.








A Table Mountain, que se vê deliciosamente traduzida por “Montanha Mesa” (fiquei a pensar se nos Guias de Turismo de Portugal também se escreve Star Mountain ou Dog’s Spine Mountain), é uma espécie de rainha da cidade. Claro que subimos (por um teleférico), e à custa do sol altamente brilhante, vimos toda a cidade aos nossos pés: é uma escalada reveladora de uma paisagem deslumbrante. O que eu tenho notado à medida que vou escrevendo textos e emails sobre Cape Town, é que me faltam adjectivos e outros sinónimos para bonito, lindo, maravilhoso, magnífico, estupendo, etc, etc…








A visita seguinte foi a Saldanha Bay, a noroeste da Cidade do Cabo, e que foi no momento devidamente documentada (texto 2 de Agosto, “My name is Saldanha”).





Depois do exercício de narcisismo puro, seguimos para Stellenbosch – a terra do vinho sul africano. Além de ter uma Universidade, cujos primórdios remontam ao século 17, é uma região de vinho estabelecida e fundada em 1679. A seguir a Cape Town, esta foi a mais antiga região habitada pelos europeus, quando colonizaram o País.




Em Stellenbosch, existe uma rota do vinho com dezenas de Quintas que se podem visitar, além de provas e até algumas servem refeições. A cidade em si parece um cenário de um filme vitoriano, pois as casas da época estão todas impecáveis, respeitando o espírito da altura, com os telhados recortados, as janelas de vidrinhos e os jardins muito bem arranjados. Além das montanhas que cercam a cidade, dando-lhe um ar meio pré-histórico, existem as vinhas que se vão estendendo ao longo dos campos bem tratados. Comemoramos 13 anos desde que começamos a namorar e almoçamos numa Quinta (Boshendal), debaixo de um sol de Inverno preenchido de celebração. Fizemos umas provas, não as suficientes para que ficássemos pior do que o GPS (que se fartou de nos enganar durante a viagem), e seguimos para o Western Cape com a Garden Route em próxima missão.






























































Comentários

Anónimo disse…
Obrigado pelas fotos,algumas vão ser aproveitadas para criação artística.
Quanto ao texto ainda não li mas promete.
VandaAbreu disse…
adorei o relato, como sempre!

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