Os novos contos de fadas.
Lisboa. Final da tarde, 40ºC à sombra.
Para quem não sabe, Lisboa vive dias de calor inqualificável. Podemos ir desde o deserto do Saara, ao centro do vulcão, ao planeta Vénus, you name it! Está um calor horrível, impraticável.
Sim, eu vivi no Norte de Moçambique, sim, numa Ilha no meio do Índico, sim, de solo rochoso, quente como a mais quente das pedras, sim, mas não era tão quente como aqui e sim, suportava-se melhor.
Continuando.
Lisboa está há 3 dias debaixo de uma onda de calor que produz efeitos, como por exemplo, as sandálias descolarem-se e rebentarem no meio da rua, o que leva a pessoa a andar descalça e atravessar ruas e passeios de pés no chão até ao sapateiro mais próximo. Dito isto, e tendo gente que me olhava incrédula (há uma primeira vez para tudo, até para se ver uma tipa com bom ar descalça, de pés na calçada a chamar um táxi em plena Avenida principal da cidade) todo o meu dia foi um desafio ao calor, tendo que andar de lugar em lugar pelo meio da cidade cujo alcatrão, vos digo, ferve como chapa de fazer ovos estrelados.
O dia vai caminhando para o fim. As temperaturas mantêm-se. Em África, sente-se o calor a diminuir, há uma quebra da temperatura, há alívio. Aqui, na capital do império, não há alívio nenhum, parece que estamos permanentemente dentro de um forno a 200ºC ventilado.
Então, as coordenadas do meu tom-tom levam-me até ao "meu" Jardim. Talvez lá se possa aliviar este calor horrível. Sombras, relva, água, bichos.
Tarefas: Revisão de um conto que pode vir a fazer parte de uma futura colectânea & Preparação de um workshop de escrita de histórias infantis para o qual fui convidada a participar nos próximos dias! (só coisas boas)
Lugar: Jardim da Gulbenkian
Sítio: Sentada na relva, numa sombra.
E assim, maravilhosamente instalada, estive eu a rever o conto do "Sentido da Vida", atenta ao movimento de quem passa. Pais, meninos e meninas, namorados, amigos, côdeas de pão, mantas, patos, patas, crias, melros, pombos e cágados.
Depois deitei-me na relva, fechei os olhos, assim como a Alice, e fiz parte daquele cenário. O chão fresco em contacto com o meu corpo era um bálsamo mais do que suficiente. Pensei em fadas, dragões e princesas, como seriam o que comeriam ao pequeno-almoço, qual o seu nome próprio.
Sim, eu vivi no Norte de Moçambique, sim, numa Ilha no meio do Índico, sim, era um lugar mágico, mas o de ontem também o foi.
E num único momento aqui relatado, consegui juntar quase tudo o que mais gosto: escrita, contos e imaginação sem limites, bichos e um jardim misterioso no meio da minha cidade.
Só faltou o meu Príncipe, para tudo isto parecer um verdadeiro conto de fadas.
Mas não foi ele que salvou a sua Cinderela com o sapatinho de cristal (remendado)!
Teve de ser o Sr. Carlos, o sapateiro, que por 1€ me pregou as sandálias.
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