O conto continua...
Parte
II
Todas
as manhãs, Maria Amália põe a gaiola do “Tito”, o canário amarelo, no prego da
parede do lado de fora da janela. É lá que passa o dia, a encantar o Bairro com
a sua doce melodia de canário amarelo. Muitas vezes, a pedido dos vizinhos, a
gaiola é colocada mais cedo ou fica até mais tarde.
Num
dia, de grande ventania, o Tito, lá estava posto do lado de fora da janela.
Veio uma rajada mais forte e a gaiola, com pouco mais do que 178 gramas, com o canário
(de 15 gramas), voaram do 1º andar até ao passeio. O estrondo foi grande e
trouxe a vizinhança às janelas.
Maria
Amália quando ouviu o barulho vindo da rua correu à janela e percebeu a
algazarra.
- Foi o Tito! O Tito caiu!
Correu
a descer as escadas do prédio e quando chegou à rua estava a gaiola toda
escavacada, o bebedouro e o comedouro partidos, e um homem com o canário
enrolado num naperon, que servia para cobrir o “telhado” da gaiola.
- Foi esse senhor, vizinha! Foi ele que
salvou o Tito. Se não fosse ele, o Tito, coitadinho, se calhar ficava-se e
morria de susto. Foi esse Senhor que o salvou!
As
vozes dos vizinhos chegavam das janelas e das varandas. Todos debruçados para
assistir ao salvamento do Tito.
O
homem pelos vistos passava pela rua no instante em que a gaiola caiu ao chão.
O Tito,
na verdade, assim que se estatelou, não se mexeu – à parte de cantar, ele não
devia saber para que deviam servir as suas asas. Nunca tinha voado. Estava
encolhido e tremia como um cão com o rabo entre as pernas.
Uma
gaiola com um canário amarelo aterrou aos pés do homem e o Tito foi salvo
graças à orientação da vizinha do prédio em frente, a D. Lurdes. Essa mesma
senhora (vizinha) que costuma estar 7 horas por dia à janela a fazer crochet, malha ou arranjos de costura,
enquanto consegue controlar todas as pessoas que passam na rua, carros,
carrinhos de bebé, carteiros, carrinhas da luz e da água, visitas inesperadas,
saídas não previstas, ausências prolongadas.
Foi Dona
Lurdes, que de imediato, no seu posto, deu as ordens:
- Agarre no passarinho, oh Meu Deus!
Agarre-o, não o deixe fugir! Pegue no paninho e tente agarrá-lo! O Tito, o
nosso Tito!!
Maria
Amália agradeceu ao homem e levou o Tito para casa. Durante duas semanas o Tito
não foi posto lá fora. Todos ainda estavam a recuperar do choque.
A
rua, e o Bairro, voltaram à normalidade assim que o pássaro recomeçou a cumprir
a sua função de cantar enjaulado.
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