Conversas do Divã #8
Planos.
Tem a vida planos para nós, ou traçamos os nossos planos para a vida?
O Forrest Gump dizia, num filme com quase 20 anos: "Life is like a box of chocolates, you never know what you're gonna get"
Mas ninguém o ouviu muito bem. Eu pelo menos.
O que podemos fazer são escolhas e tomadas de decisão, mas há sempre um pedaço que nos escapa. E os planos que traçamos podem ser escolhas que tomamos, nada mais.
O universo trata do resto, pois nada que é nosso pode alguma vez ser. E a terra não gira porque é nossa.
Se fazemos rodar o dado, que seja por nossa opção, o resultado é que já não o podemos prever.
E assim continuamos sem ser capazes de fazer planos. Ou não?
Quando escrevi esta última entrada do meu diário, houve um ponto de interrogação que nasceu no fim da minha boca: eu achava que sim, que tomava o pulso daquilo que tinha como certo, que tomava conta da minha vida, mas afinal não.
Passaram quase três anos e a minha arquitectura desfez-se em pó.
Passaram quase três anos e a minha arquitectura desfez-se em pó.
Hoje, com o filho sonhado e o pedaço de terra ambicionado, os planos de pouco me serviram.
Tinha projectado um caminho, amplo e perfeito.
Mas a caminhada não dependia só de mim.
Julgava eu saber da vida. Mas foi a vida que me deu um chocolate completamente diferente e eu tive de o aceitar.
Aprendi a aceitar.
Aprendi a viver com um novo "plano".
Aprendi a comer outro chocolate.
Aprendi a comer outro chocolate.
No outro dia assisti na televisão à entrevista da Sónia Brazão, na SIC, a actriz que sobreviveu a uma explosão de gás em casa. Ficou toda queimada (90% do corpo), em coma, e lentamente foi recuperando até "regressar à vida".
Ela disse coisas com as quais me identifiquei, e eu não tive uma explosão de gás em casa, mas talvez tenha passado por um muito mau bocado (e ainda estou a passar, mas já são restos do "tsunami" que me abalou).
Que a vida, por vezes, não é o que idealizamos e que aceitar a sua nova pele (com marcas) foi a maneira de enfrentar a nova realidade.
Que assim seja.
Que me refaça das cinzas, da destruição que me abalou por dentro e reconheça que mesmo assim, posso fazer escolhas e tomar decisões.
Afinal ainda posso fazer planos, mesmo quando o que me aconteceu não era previsto, projectado ou sequer ponderado.
De qualquer modo, ainda acredito que o universo vai-se entreter a colocar uns chocolates na minha caixa.
Afinal ainda posso fazer planos, mesmo quando o que me aconteceu não era previsto, projectado ou sequer ponderado.
De qualquer modo, ainda acredito que o universo vai-se entreter a colocar uns chocolates na minha caixa.
Por agora, vejo uma luz ao fundo e encontro as forças para me erguer.
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