Conversas do Divã #9




A coerência constante.
 
Uma rosa é sempre uma rosa, nunca um lírio ou uma frésia. A chuva é sempre em gotas e os peixes terão sempre escamas. Hoje, amanhã, até ao infinito.
A consistência das coisas torna-as tranquilizadoras e coerentes. Sabe-se com o que se conta, hoje, amanhã, até ao infinito.
Quando isso acontece com as pessoas, tenho as minhas dúvidas se é bom ou se não será antes uma penitência para quem adere a tal prática.
Eu sou uma dessas pessoas - da (talvez irritante) coerência consistente.
A Rita é sempre a Rita.
Aqui, no meio de uma ilha no Índico, ontem, amanhã, no infinito.
Comigo sabe-se com o que se conta. É constante.
Sou hoje daquilo que me trouxe o dia anterior, e pratico-o no futuro até ao infinito.
E ser assim, não é bom nem mau, é o que é.
Para mim, que tomo consciência dessa minha natureza, já muito própria há muito tempo, tem sido penoso conviver com essa consistência.
Parece-me, pelo que a vida me está a mostrar, que não me "adiantou" de nada cultivar essas árvores ao longo de tantos anos, porque ao lado há quem as plante de cabeça para baixo, ou mesmo quem as abandone a meio do caminho.
Pois eu estou sempre na constância do meu ser. O que sou é coerente.
Imagino um cartão de visita, com o meu nome, morada, contacto e por baixo do nome "pessoa coerente".
Além de coerente também sou pensante, mas até nisso (irritantemente) sou constante.
Não gosto de adjectivar; evito adjectivos na escrita - mas a verdade é que gosto de ser constante.
O que sou hoje é ontem e amanhã.
Sempre.
Até ao infinito.
 

Comentários

Anónimo disse…
Gosto.

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