As cartas...


...de sobremesas.

Ora aqui está um ponto nevrálgico a debater. Não são as cartas de amor, que são ridículas, nem as do condomínio, mal escritas. São as cartas de sobremesas!

O marketing das sobremesas em Portugal é corriqueiro e pobre em estilo. Inventam-se nomes e versões repuxadas de coisas que se querem simples. Fica tudo ao critério da imaginação de uma criança de 10 anos, que deve ter sido quem pensou nestes nomes: vulcão de manga, delícia de semi frio, surpresa gelada... e a melhor - a baba de camelo! Traduzir isto era engraçado: "camel slaver..., it's very good" (?!)

As cartas de sobremesas são tratadas como um mal necessário. Parecem uma espécie de empecilho para o mundo da restauração em Portugal. A visão é a seguinte: têm as bebidas, tudo quanto há, muita sopa, salgados, muito bacalhau, arroz, bifes de vaca, perna de porco e muito café. As sobremesas é uma chatice! É coisas com açúcar. Um inferno. Não têm graça nenhuma. Então, toca de lhe dar nomes originais e fazer do leite creme, das natas e da bolacha Maria o "Doce da Casa". Facilita muito mais. Umas mousses, fruta e faz-se a festa.

Isto é cruel para quem, como eu, tudo terá de terminar tão bem como começou. Com uma excelente sobremesa. E as cartas de sobremesas são uma literatura essencial que muita falta (me) faz quando vou jantar ou almoçar fora.

Enuncio então os vários tipos de cartas de sobremesas :

- as cartas da "Olá!" ,"Menorquina" e tudo o que seja de uma marca de gelados, que lá no meio mete a Taça Whisky com o Doce da Avô. As fotografias normalmente são de má qualidade, têm todas não sei quantas cruzes à frente de cada sobremesa daquilo que há, não há, havia, houvesse, metem a fruta no meio, como se isso fosse um doce, enfim... uma desilusão.

- as cartas que estão incluídas no próprio Menu do Restaurante, mas que no fundo não são mais do que cartas da "Olá!" disfarçadas, porque têm lá tudo igual: a criatividade nula dos nomes e da produção doceira (Doce da Avó ou Doce da Casa, semi frio de natas, mousse e fechamos a loja)

- as cartas das empresas de sobremesas que fornecem os Restaurantes. Essa coisa da "Doce Tentação" ou o que é que se chama, que faz a mousse de caramelo em taças de pvc cor de caca com uma capinha plástica com a data de validade em cima, é coisa do demo! Parece que nos estão a servir comida de avião a saber a amendoim mole e bafiento.

- as cartas que não existem. Isto é, quando olham para a vitrina (também da "Olá!" ou da "Menorquina" - mas alguém come estes gelados?....) e dizem: "Temos o doce da casa, a tarte de natas, a mousse, o abacaxi e o melão". Tudo juntinho lá na arca. Maravilha.


Mas é tudo mau? - perguntam vocês. Não, não é tudo mau. Há excepções, claro.
O Bolo de Arroz reconhece esse esforço herculiano que alguns fazem em apresentar uma coisa simpática. Uma carta à parte, com sobremesas, fruta, cafés e digestivos. E uma escolha simples e criteriosa de sobremesas. A ideal não existe, mas eu posso sugerir uma?
Quanto menos adjectivos, palavras e letras tiver um doce, melhor. É como no amor - quando ficamos sem palavras é porque estamos mesmo apaixonados, certo?
Alguns exemplos: leite creme. arroz doce. mousse de chocolate. mousse de caramelo. tarte de maçã. gelado. merengue. farófias. trouxas de ovos.

O Bolo de Arroz é guloso, pois.

Para os que a seguir ao prato só bebem o café, e acham isto uma perca de tempo, digam lá se gostavam de comer o bacalhau com broa todo enroladinho numa caixa tipo BigMac com um autocolante em cima, a broa ser papo seco duro e o azeite ser óleo fula?
Não gostavam, pois não?
Então, pronto.
Quero uma mousse de caramelo, VERDADEIRA, se faz favor.


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