o fim do ano


Estudei da 1ª à 4ª classe nesta Escola em Cascais.
E agora que os miúdos se preparam para o final do ano, foi inevitável lembrar-me desse momento que culminava com o dia do "passeio grande".
O passeio grande que é como quem diz, meterem-nos numa camioneta durante 12 horas a caminho de lugares recôndidos como Évora ou Estremoz, sendo que naquele tempo para se chegar a Lisboa tinha de ser pela marginal, naturalmente, e só isso já era um passeio enorme.
 
Tudo o que ultrapassasse as duas horas de caminho era qualquer coisa de espectacular e transcendente. Não havia telémoveis, GPS, ar condicionado na camioneta, caixas negras, o que queiram. Era muito provável que a camioneta desaparecesse com 30 crianças a bordo e que tivesse três furos em cada roda, e que se perdessem em média 1 criança e meia por cada paragem e até que se enganasse no caminho; mas o que é certo é que nunca aconteceu!
 
O farnel, era para mim, a peça fundamental desta história, composto por caprisone, sandes de panado, croquetes, pacotes de pala-pala e línguas de gato, sendo que os mais sortudos ainda levavam fatias de bolo caseiro.
Acabava sempre por haver alguém que apanhava sol na cabeça, vomitava o farnel inteiro, levava com um banho de água, encharcava os pés numa poça, perdia o lanche, ou o dinheiro para o gelado, chorava com vontade de fazer cocó e não conseguia fazer nas casas de banho das bombas de gasolina, fazia xixi nas calças, chorava com saudades dos Pais, fazia bolhas nos pés, enfim.

Era um dia inteiro naquela missão de chegar ao sítio mais longe de Portugal, para depois rapidamente meterem-nos dentro da camioneta outra vez e voltar para trás.
Se havia um acidente na estrada era bem provável que o passeio chegasse 3 horas atrasado, como foi no caso do meu irmão, que eu lembro-me bem da minha Mãe à espera dele às nove da noite à porta da escola, sem telefone, sem notícias, zero de informação. Era aceitável que a camioneta tivesse um despiste e como não havia cadeiras próprias para nada, ou regras de segurança, resultava numa catástrofe horrível, mas a verdade é que tudo chegou são e salvo.
Eram outros tempos.

Hoje, no fim do ano há festival de cinema e entrega de óscares...
Mal sabem eles a sorte que têm de não os meterem numa viagem a caminho de sítios complicados.

Talvez hoje tudo isto seja impensável, mas a verdade é que passamos todos por isto, e quando se fala em levar os miúdos a algum lado há logo 50 regras, os telemóveis das professoras, do motorista, e até dos miúdos, que já os têm, sistema de GPS, etc...

É tão fácil complicar que até assusta!

Comentários

que nostalgia Rita!
eram outros tempos... diferentes...
Anónimo disse…
Saudades.

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