Mudanças



Pela 4ªvez este ano vamos mudar de casa. A primeira mudança aconteceu em Fevereiro (saímos da Pascoal de Melo e fomos para Santa Catarina), a segunda em Junho (passamos do R/ch para o 3º andar, no mesmo prédio), a terceira em Julho (para a casa de Pemba) e agora a quarta para a casa no Ibo.

Eu que sempre fui avessa às mudanças, que sempre reclamei o meu direito ao meu canto, que detestei quando mudámos a primeira vez de casa (dos Olivais para a Pascoal de Melo) porque me senti completamente perdida, fora da minha zona de conforto, só este ano faço quatro mudanças.

Claro que vamos ganhando experiência, as listas de coisas são mais automáticas, os sacos são mais pequenos, andamos com menos coisas às costas, a tralha é reduzida ao essencial. A minha zona de conforto começa a instalar-se dentro de mim, tenho exigências mínimas de um bem-estar exterior, mas dentro de mim vou ficando cada vez mais inflexível. Só quero estar no meu melhor, nunca no mediano.

E o mais curioso é que desejo o mais simples deste mundo: ter uma família, numa casa. Não há dúvida que o tentei e fizemos tudo para que isso se proporcionasse, mas não quis o destino que assim fosse. “Por enquanto não, ainda terás outras coisas a fazer primeiro” – terá alguém ditado. Então fomos construindo casas à nossa volta, habitando-as, vivendo dentro delas, ocupando-as, elas recebem-nos e nós aconchegamo-nos lá dentro. Com os tais mínimos de bem-estar – sendo que agora pelo facto de não haver frio aqui, o calor é mais uma divisão que se ganha. O frio torna tudo mais vazio.

Imagino a vida como uma grande velha casa, com a sua família que sempre lá viveu, de geração após geração, que vão deixando pedaços de vida: livros, álbuns de fotografia, peças e quadros, molduras e retratos, roupas e sapatos. Acho que dificilmente se encontram essas casas hoje em dia, já todos abandonam o que quer que seja que os tenha acolhido, com o pensamento rápido do futuro prometido. Pois para mim, que pela força das circunstâncias ainda não consegui apegar-me a esse chão de quatro paredes com telhado e enche-lo de vida e de memórias, faço-o dentro de mim, movimentando-me entre casas. Mudando-me de vida.

Todos esses movimento têm um significado, tudo caminha num sentido – eu sei.

Eu aguardo.

Comentários

Anónimo disse…
Genial! Comovente! Queremos mais...

Beijinhos a essa família composta por 2 GRANDES PESSOAS

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