O Mundo todo por um Passeio...
O passeio que fizemos até ao Rio Lúrio, a cerca de 150 km de Pemba, a partir de uma terra chamada Chiure, começou em Vilankulos, há mais ou menos 15 dias atrás.
Quando ficamos no Zombie Cucumber, na viagem de Maputo até Pemba, conhecemos o Gonçalo (já aqui falei no seu Blog) que viaja por África de mota, desde Angola a caminho de Lisboa. A sua passagem por Moçambique incluia uma viagem até Pemba, onde tinha um amigo português a trabalhar. Naturalmente conversámos sobre Pemba e sobre o Ibo e ficou a promessa de nos voltarmos a encontrar uns dias mais tarde.
Assim aconteceu.
Então conhecemos o André, que é geógrafo e trabalha aqui em Pemba, e depois dele conhecemos a Luz Maria e o Michael, a Marta, a Maria João, a Barbara e o Marcus, a Mariane, a Rebeca, a Romina... Peru, Suíça, Espanha, Portugal, Áustria, França, Paraguai...
A Luz Maria e o Michael são um casal tão exótico, que é difícil acompanhar a sua originalidade: ela é peruana, ele é suíço, conheceram-se no Chile onde estavam a filmar um documentário, ela como produtora ele como actor. Hoje ele trabalha numa ONG Suíça em Moçambique, moram no Chiure há 3 anos numa casa sem água canalizada, têm dois filhos e fazem anos no mesmo dia - que foi no sábado passado. A propósito dessa celebração convidaram todos estes amigos, incluindo o Gonçalo e o André, e nós fomos lá ter no Domingo para fazer o passeio até às Cascatas do Rio do Lúrio.
Assim que chegamos a casa da Luz e do Michael fomos logo recebidos com tanta amizade e um óptimo espírito, que logo sentimos estar a fazer novos amigos. Algo que até agora nunca tinha acontecido desde a nossa chegada em Julho - parecia que andávamos a viver dentro de uma autêntica bolha.
Partimos em caravana até à Aldeia do Lúrio tendo antes feito uma paragem para ver um artista, um homem com alma de espéctaculo de Circo, do mais puro que pode haver, que nos apresentou o seu número. José colecciona cobras, vive com elas em casa, tira-lhes o veneno que guarda em frascos, deixa-as à solta para irem caçar e diz que elas voltam ao final do dia.
"Mas por que fazes isso, José?!" - perguntamos nós.
"Porque quero ser um artista!" - responde o homem em frente a um grupo de brancos, com crianças incluídas, com toda a aldeia a assistir ao momento.
O José tem 48 cobras e pediu-nos para voltar na próxima semana, para fazer o número com as cobras todas. Agradecemos muito e achamos melhor não prometer nada... Seguimos caminho até às Cascatas e lá tivemos a maior recepção possível!
TODA a Aldeia do Lúrio veio receber os brancos - eram dezenas de pessoas, eu acho que eram umas 100. Homens, mulheres, crianças, bebés e até um macaco.
O próximo momento foi a descida, a caminhada até ao Rio para tomar um banho já muito apetecido. Fomos todos. Todos os do grupo multi-mix-branco e mais os da Aldeia, os que nos seguiam pelas pegadas, os que ficaram lá em cima a dizer adeus, os que iam e vinham, subiam e desciam três vezes enquanto nós, desajeitados, andavamos aos tropeções entre as rochas gigantes.
No meio daquela procissão, qual Rossio em Sevilha, em que só faltavam mesmo os cavalos, começou a chover! Então foi aí que o meu coração acelerou... a lama que cobria as pedras começou a servir de manteiga debaixo dos pés e nós já descalços iamos fugindo da chuva, atrás dos nossos guias, abrigando-nos nas rochas. Escorreguei umas quantas vezes, uma nódoa negra e um arranhão no pé, o Xano caiu mesmo á minha frente, mas apenas tudo ligeiro.
O Gabriel - o nosso guia - diz que é assim mesmo: escorrega!
A meio da chuva houve alguma desistências, pois havia uma grávida e algumas crianças pequenas, a certa altura reparei que apenas 5 pessoas seguiam o caminho das pedras lamacentas - eram os portugueses! Vá lá, ao menos alguma prova de valentia dos tempos idos... que agora não se vê em lado nenhum.
Entre os que começaram e chegaram à Cascata já não sei quantos eram, mas o número era sempre grande, tendo em conta novos que apareciam, outros que pareciam vir de debaixo do chão. O grande grupo tomou um grande e merecido banho!
Chego à conclusão que onde há um Rio e uma Cascata há meninos e criança que brincam como se as pedras fossem feitas de algodão doce e a água uma enorme panela de chocolate derretido - atiram-se para dentro de água sem medo, saltam lá do alto de braços abertos. Os Pais deles não estão ali. Andam soltos como pardalitos. Até levam um quadradinho de sabão para lavarem a roupa e deixarem secar ao sol - são tão pequeninos e vê-los a lavar a sua roupa é qualquer coisa de ternurento... se é isso que se pode chamar.
Regressamos, subindo pela escarpa (por onde as crianças descem em 2 minutos) e tudo terminou bem! Novamente reunimos o grupo debaixo de uma mangueira e fizemos uma grande despedida da Aldeia.
Já de noite, regressamos a Pemba, e demos boleia a quatro amigos. A lua cheia foi iluminando todo o percurso até casa, e Portugal, Paraguai e França viajavam no mesmo carro, falando português, partilhando conversas.
Foi um banho de amizade profundo que nos soube muito bem.
Comentários
bjnhos!
o "Rossio" que tu referiste escreve-se "Rocio" tal y como a Virgem del Rocio que é muito venerada em Almonte em Huelva...
Beijinhos grandes e bons blogs, continua!
J