Maria de Fátima

Maria de Fátima, não é um acaso. A Mãe esteve 10 anos para conseguir engravidar desta única filha e não podia ter outro nome. Além dos pés e braços de cera a derreter vorazmente, num inferno de promessas, Maria de Fátima acrescenta-lhe as suas velas, todos os anos que

vão passando.

Este ano, em Abril, foi a Fátima pôr 47 velas. A seguir almoçou um coelho no tacho, com o marido, a filha e a Mãe. Moram todos juntos em Alvalade, num apartamento perto da Igreja que cheira sempre um bocado a sopa, a qualquer hora do dia, pois a D. Beta, a Mãe, está sempre na cozinha.

Maria de Fátima é pequenina, mas chegou a ser da equipa do "1º de Maio" de andebol feminino. Era o Pai que a levava aos treinos.

Lisboeta de gema, gosta de ir à Revista, de ler o Correio da Manhã e a TvMais, de trocar dois dedos de conversa com quem passa.

Há a crise, sim senhora, mas a Maria de Fátima está benzinho. A filha estuda no Liceu Eugénio dos Santos, é boa aluna. O marido é funcionário dos correios e ela é administrativa num escritório de mudanças para os lados da Baixa. Anda cheia de trabalho, pois. "Agora é tudo a querer mudar de casa e uma pessoa já não vive com meia dúzia de tarecos!"

Hoje foi ver dos livros que faltam para a filha na hora do almoço e aproveitou para meter o Euromilhões.

A Maria de Fátima dá graças a Deus todos os dias pelo que tem. A sua casa, o seu marido, a sua Mãe ao seu lado e a saúde de todos e da filha que vai indo tão bem na Escola. Só às vezes se zanga um bocado quando o marido chega tarde, depois dos jogos do Benfica. Fica no café a ver a bola e perde-se nas cervejas.

Mas aquilo vai tudo andando.

No ponto-cruz e na "sopa de letras" vai-se entretendo enquanto ele não volta, porque gosta sempre de o ver chegar a casa e de sentir como se o estivesse a ver pela primeira vez, quando se conheceram.

A "Fatinha", como lhe chamam lá em casa, é Carneiro, mas nem por isso deixa de ser uma doce e suave mulher.