Vidas debaixo do Chão










Não é uma novidade a minha queda para as viagens. E quando me refiro a viagens está tudo incluído: comboio, metro, autocarro e até barco! (curioso que não considere o avião uma forma de viajar... talvez porque não sinta o meu corpo a deslocar-se.)


Fascina-me que num qualquer compartimento caibam pessoas com vidas tão distintas que por breves minutos, às vezes segundos, partilhem o mesmo espaço. Uma paragem, um apeadeiro, uma carruagem, uma estação, uma plataforma...


Para mim o metro é, no extremo da sua profunda urbanidade e significado de evolução e velocidade de tempo, de vida, de coisas que se seguem umas às outras, a melhor viagem que se pode fazer dentro de uma cidade.


Debaixo do chão há vida. Gente que se cruza, linhas com cores, sinais, anúncios, lojas, escadas rolantes e sempre aquela sensação que temos de andar depressa.




De uma forma consciente, e agora mais regularmente, sempre viajei de metro com umas "lentes" que observam as pessoas. Passageiros que de minuto em minuto são diferentes, uns de rostos caídos no jornal, outros perdidos no escuro, gente de sacos na mão, e filhos na outra, pastas e mochilas, sempre a caminho de qualquer sítio, sempre com o seu destino em mente.


É bom quando viajamos com um destino, isso dá-nos uma atitude muito diferente, muito certa de nós próprios. As pessoas vão certas que a próxima saída é "Arroios" ou "Picoas", e lá sabem o que têm a fazer depois de subir as escadas.




Sempre foi esse lado "oculto" de cada pessoa que me fascinou quando viajo de metro; naquele momento partilhamos um objectivo, algo que nos transporta juntos, e até nos sentamos ao lado uns dos outros. Mas antes e depois disso, não sabemos nada uns dos outros. Eu sei que não é suposto as pessoas andarem com um letreiro a dizer: "Entrei nas Laranjeiras e vou sair no Marquês, porque tenho uma consulta de dentista na Av. Duque d'Ávila."




Mas e se andassem?




Em Moçambique, quando encontravamos alguém que não viamos há alguns dias, perguntavam logo quando tinhamos chegado, onde tinhamos estado e se íamos para algum lado a seguir.


Mais do que uma curiosidade quase infantil, é a necessidade que temos de contactar o outro, de chegar a ele, o que em última análise me leva para aquilo que vou começar a fazer aqui no Blog.


Vou contar histórias de pessoas, gente que imagino, passageiros com quem me cruzo no metro e a quem eu deito os meus olhos mudos, ávidos de descobrir aquele mundo que se movimenta.


São histórias debaixo do chão de gente que anda por aí.




Espero que gostem!


Até já!







Comentários

Anónimo disse…
Eu, quase implusiva e inconscientemente, fabrico histórias sobre as pessoas desconhecidas com as quais me cruzo casualmente - um olhar, uma frase, uma peça de roupa, é quanto basta para na minha cabeça nascerem pequenos episódios da vida dos outros! Julgava que fosse maluquice minha, mas afinal...

Fico a aguardar as tuas maravilhosas histórias!
Anónimo disse…
I am speechless.Para mim , para o meu pequeno universo , a arte está a cima.Isto é, primeiro a arte e depois o resto.Cheguei a esta altura da minha vida e vi que estou rodeado de gente que sabe o que é a arte.São os que estão acima.Estas fotos feitas por ti e os textos feitos por ti , para mim são como o ter ganho a sorte grande.Estas fotos............UNIVERSAIS.BRAVO.OBRIGADO.NÃO SEI O QUE DIZER.COMO DIZIA O POETA-SER POETA É SER MAIS ALTO:É MESMO.
Anónimo disse…
Quem diria.Vale a pena viver a vida para ver o sonho.Ainda por cima a cores.
Anónimo disse…
Quantas vidas cabem num metro?
Quantas horas cabem num minuto de vida?
Quantos metros custam a quem vive a vida num minuto?
Quantos metros sobram a quem tem um minuto de vida?

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