O (meu) jardim secreto
Calouste Sarkis Gulbenkian é um senhor que muita gente não sabe quem é, mas ele é o grande responsável pelas mais fortes memórias de infância de uma larga maioria de pessoas que vive em Lisboa e arredores.
Nascido em Istambul, no seio de uma família de comerciantes arménios, viveu durante 13 anos em Lisboa, instalado no Hotel Aviz, "um afamado e luxuoso hotel situado em plenas Avenidas Novas."
(Não foi por "isso" que decidi escrever este texto, mas a título de curiosidade deixo-vos um apontamento: O Hotel Aviz foi antes propriedade do Sr. José Joaquim Silva Graça, Fundador do Jornal "O Século", que o vendeu ao seu genro, meu Bisavô, José Garcia Rugeroni e que o transformou no tão famoso Hotel Aviz. A minha Avó e ainda o meu Pai viveram e cresceram entre esse negócio familiar, que terminou pelos anos 60, deixando a impressão de um Hotel que talvez tivesse sido um mito.)
O Senhor além de rico, filantropo e de gosto muito exigente, era um coleccionador exímio de obras de arte. Morre nos anos 50. Da constituição da Fundação Calouste Gukbenkian, passaram cerca de 10 anos até à construção da Sede e Museu, num quarteirão sob o Largo de São Sebastião, no Parque de Santa Gertrudes onde chegou a ser o primeiro Jardim Zoológico de Lisboa.
O Jardim da Fundação Calouste Gulbenkian em Lisboa, um projecto dos arquitectos paisagistas António Viana Barreto e Gonçalo Ribeiro Telles, é o resultado de uma imaginação tão fértil que a todo o instante esperamos ver um gato que fale, um pato a ler um jornal, ou um violino feliz a flutuar no Lago...
Eu sou parte dessa gente que escolhia as côdeas do pão para ir dar aos patos e que, ainda hoje, adora a ideia de um dia se poder perder ali dentro e encontrar um esconderijo secreto.
Atravessá-lo, de uma ponta a outra do quarteirão, são minutos de evasão a qualquer hora do dia. É verdade que já não corro atrás dos pombos, nem levo côdeas de pão para os patos, mas mesmo para quem nunca lá tenha ido em pequeno, é obrigatório sentir-se convidado a experimentá-lo uma primeira vez, seja adolescente borbulhento, adulto descrente ou velhinho rabugento.
Quem partilha momentos neste Jardim cria laços para o resto da vida.
Nota: Alguma informação foi retirada do Livro "Gulbenkian, Arquitectura e Paisagem", Lisboa, 2007, Edição da Fundação Calouste Gulbenkian - Serviços Centrais. À venda na Fundação por 5 euros.
Comentários
Parabéns pelas fotos com efeitos e parabéns pela riqueza toda que transportas e transbordas cá para fora.
É um agregado harmonioso de linhas rectas, horizontais e verticais, que à medida que ganham volume, transformam-se numa casa de enormes lajes e blocos sobrepostos, intercalados por enormes vidros, finalizando com uma envolvência verde absolutamente arrebatadora!