O meu afia-lápis

Podem acreditar que do meu regresso de Moçambique, de um ano de vida partilhada entre duas casas (Pemba e Ilha do Ibo), só me esqueci de uma coisa, que deixei lá ficar.
O meu afia-lápis.

Não sei o que passou pela minha cabeça quando incluí o meu pobre e velhinho afia, daqueles que tem duas entradas, no role de coisas que resolvi deixar em Moçambique, ou seja, dar.
Eu dei o meu afia-lápis!! Como??
Naturalmente, dei roupa e sapatos, mas também mochilas, cadernos de escrita novinhos em folha, post-its, alguidares de plástico e caixas de palitos.
Mas o meu afia?!

Comecei a dar pela falta, quando há pouco tempo quis afiar um lápis. Passei então para outro. Depois de usar esse, passei para outro. E entretanto abria e fechava gavetas. O afia? Onde andava o afia?
Quando finalmente percebi que o tinha deixado em Moçambique, pedi-lhe perdão e parti para a compra de um novo afia. 300 anos de história ficaram para trás.
O meu novo afia-lápis só tem uma entrada, ainda está todo limpinho, luzidio e achei-o feliz assim que o meti no meu estojo. É um bebé-afia. Muito terá de passar para sequer chegar aos pés do outro, a quem eu remeti permanentemente para o estatuto de afia-expatriado.

É claro que assim que cheguei a casa fui afiar os meus lápis.
Até ao dia em que eu perco a cabeça e compro daqueles afias automáticos como se vê nos filmes, e que eu pessoalmente já experimentei, vou andando com o meu novo afia.
E não se esqueçam: "Always keep your pencils sharp!"

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